Sete anos sem Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo, os defensores da Amazônia

Maria do Espírito Santo e José Cláudio Ribeiro da Silva foram assassinados a tiros em 2011 em Nova Ipixuna, no Pará (Foto: Reprodução)

Ativistas da Amazônia, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foram assassinados a tiros em 2011 em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. A tragédia teve repercussão internacional à época e foi comparada aos assassinatos de Chico Mendes e da freira Dorothy Stang. O casal, que ganhou as manchetes do The Guardian, New Tork Times, Wall Street Journal, Vice e Al Jazeera, fazia parte do grupo ambientalista Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).

Zé Cláudio e Maria desempenhavam um trabalho diário em defesa da floresta tropical amazônica, denunciando o desmatamento e a compra ilegal de terras, e já tinham recebido ameaças de morte de criadores de gado, madeireiros e carvoeiros. Em 2008, um relatório de um grupo de defesa dos direitos humanos incluiu José Cláudio em uma lista de ambientalistas da Amazônia ameaçados de morte.

Em 2010, o ativista participou da conferência TEDxAmazonia, em Manaus, onde expressou preocupação por sua segurança – inclusive previu que seria morto como retaliação por seu trabalho, segundo informações da organização Frontline Defenders. E foi o que aconteceu. Em 24 de maio de 2011, o casal foi morto a tiros dentro do Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, onde viviam. O crime foi cometido por Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Nascimento.

O primeiro é irmão do pecuarista José Rodrigues Moreira, mandante do crime. Sobre a tragédia, a polícia descobriu que o fazendeiro foi denunciado por compra ilegal de lotes de terras do projeto agroextrativista. Também foram encontrados indícios de um consórcio envolvendo pecuaristas de Nova Ipixuna, que visavam grilagem e reconcentração de terras na região.

“José e Maria, como sempre fizeram, denunciaram tanto a compra ilegal quanto a violência utilizada para expulsar famílias de suas casas”, informa publicação da revista TRIP. No dia 4 de abril de 2013, um júri em Marabá, no Pará, sentenciou Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Lopes do Nascimento a 42 e 45 anos de prisão pelo duplo homicídio. José Rodrigues Moreira, o mentor intelectual dos assassinatos, foi absolvido como resultado de evidências insuficientes contra ele – destaca a Frontline Defenders.

Silva Rocha fugiu do Centro de Recuperação Agrícola Mariano Antunes, em Marabá, em novembro de 2015 e continua foragido. A suspeita é de que ele teve a fuga facilitada. “O outro assassino, Alberto Lopes, pegou 42 anos de cadeia e permanece preso”, pontua a organização Greenpeace.

Em 6 de dezembro de 2016, o mandante José Rodrigues Moreira foi novamente julgado, e o Tribunal do Júri de Belém o condenou a 60 anos de prisão por duplo homicídio qualificado. No entanto, Moreira está foragido desde 2014, quando o Ministério Público anulou o julgamento anterior.  De acordo com o juiz Raimundo Moises Flexa, o condenado agiu com culpabilidade fria, covarde e premeditada.

Conforme informações do portal Último Segundo, do IG, o casal José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo vivia há 24 anos em Nova Ipixuna. Eles moravam em uma área de aproximadamente 20 hectares, com 80% de área verde preservada. Sobreviviam da extração de óleos de andiroba e castanha, e recentemente tinham firmado um convênio com a Universidade Federal do Pará (UFPA) para a produção sustentável de óleos vegetais.

“Eles nunca se corromperam. Quando puderam, denunciaram as violações contra o meio ambiente. Foram vítimas do violento capitalismo colonialista que opera no sul do Pará misturado a uma opressão medieval e à omissão do Estado”, escreveu o jornalista Felipe Milanez em seu blog.

No mês passado, a irmã de José Cláudio, Claudelice Santos, em entrevista ao Notícias ao Minuto, de Portugal, denunciou que sua família sofreu ameaças durante anos, e foram obrigados a deixar Nova Ipixuna e se mudar para Marabá. “Até hoje é perigoso ir ao assentamento”, porque as pessoas que cometeram o crime estão soltas”, disse. Apesar de tudo, Claudelice tem tentado dar continuidade ao trabalho do irmão, inclusive participando de fóruns e conferências sobre meio ambiente.

Saiba Mais

Segundo relatório da Anistia International, Comissão Interamericana de Direitos Humanos e da organização Frontline Defenders publicado em 2017, o Brasil, a Colômbia, as Filipinas e o México são os quatro países com maior número de homicídios de ativistas.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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