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No século 19, ovelhas eram arrastadas para abrir passagem entre o fogo

O que levaria o ser humano a arrastar animais para usar seus corpos na “facilitação da contenção de incêndios” no campo?

No século 19, durante os incêndios nos Pampas, ovelhas eram laçadas e arrastadas para abrir espaço pelas densas touceiras de cardos, de acordo com o historiador Alfred Crosby no livro “Imperialismo Ecológico”. Ou seja, seus corpos eram usados para abrir e alargar passagem entre o fogo.

Como esses animais já eram criados e são até hoje para o fim no ser humano, como o interesse pela lã e pela carne, que hoje conta com subsídios públicos para favorecer tal exploração, isso coloca esses animais em um lugar transitório que seja conveniente e que tenha desencadeado violências que não podem ser dissociadas do uso para o qual eram e são criados.

O que levaria o ser humano a arrastar animais para usar seus corpos na “facilitação da contenção de incêndios”? Incêndios que não têm esses animais como causa e que são duplamente instrumentalizados. O corpo criado para um meio e fim é pensado para outro fim – numa extensão que depende de precedente desconsideração.

Nessa ação é o corpo do animal que interessa, e como corpo que “funciona para uma outra ação”, que para o não humano é a morte e outro tipo de violência contra o corpo. É um corpo para ser arrastado como se corpo não fosse, na exclusão do pensar a relevância do corpo para quem tem esse corpo.

Não é o olhar para esse animal como não sendo mais do que uma criatura que não pode existir para corresponder a qualquer interesse que supere o interesse humano que permite crer que há “situações ou ditos casos especiais” em que uma imposição pode assumir a forma de outra violenta imposição?

Quem pode afirmar que na normalização de uma violência, não haverá outro tipo de violência, se é a violência primeira que torna aceitável a violência segunda? O que a realidade da subjugação animal revela?

Se refletirmos com franca consideração sobre a permissividade que envolve animais explorados, não é difícil perceber que o que é feito com esses animais, e que também deve ser interpretado como contra esses animais, como o mal que pode parecer-nos chocante, só existe pelo que antes era mal, porém inconsiderado chocante, por sua ampla aceitação.

Leia também “Pai, como faz pra ressuscitar cordeiro e bacalhau?“, “A miséria do cordeiro que será comido na Páscoa“, “Cordeiros estão vivendo cada vez menos” e “O que você sabe sobre a exploração de ovelhas e carneiros?

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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