Animais não deveriam ser reduzidos a propriedades

Foto: Jo-Anne McArthur/We Animals

Submeter um animal a um interesse humano depende do conceito de propriedade que atribuímos a ele. Então quando posso dizer que o interesse de um animal é levado a sério se ele é trazido ao mundo para ser uma propriedade?

Ao classificarmos animais como propriedades, os exploramos de acordo com nossos interesses, porque é permitido que o interesse não humano não seja colocado acima do interesse humano mesmo quando o substituível interesse humano é indissociável de danos a um não humano.

Alguém pode testemunhar uma situação específica envolvendo um animal criado para consumo e denunciar como crueldade, embora o próprio sistema seja por inerência um sistema dependente da crueldade.

Mas então o proprietário do animal apresenta justificativas para esse específico “tratamento” denunciado como cruel com base no dano econômico que ele teria se não agisse dessa forma. A quem será dada razão?

Se um animal é reduzido a uma propriedade, então ele existe para atender a um interesse econômico, e o que o seu proprietário fez, de acordo com o que ele declarou, foi agir de forma que alguém definiu como cruel pela defesa de um interesse econômico.

Nesse caso, há mais chances do interesse econômico se sobrepor ou não ao interesse não humano? O interesse econômico só deixaria de prevalecer se rejeitássemos o conceito permissivo de propriedade atribuído a esses animais. E do que depende a rejeição desse conceito?

De mudarmos nossa percepção, de rejeitar o uso de animais para alimentação, outros produtos, entretenimento e qualquer outro fim em que os condicionamos aos nossos interesses que dependem de prejudicá-los, de não considerar seus interesses.

Não há como rejeitar a condição dos animais como propriedade sem abster-se do que os mantêm na condição de propriedade. Foi exatamente o uso de animais para interesses humanos enquanto prejudica interesses não humanos que culminou na instituição dos animais como propriedade. Afinal, se não fosse para submetê-los e explorá-los, por que reduziríamos esses animais à condição de propriedade?

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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