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De quais maus-tratos pode se livrar um animal criado para ser maltratado?

O próprio viver, pelo que não pode ser, é uma experiência de maus-tratos

Observou a descida forçada de porcos em frente a um matadouro. Um dos porcos tentava recuar, se encolher na sua corpulência, e tinha uma destacável quantidade de vergões na pele.

Pensou em denunciar o estado do porco, mas logo o animal desapareceu do seu campo de visão. Foi como se tivesse estado ali somente por um instante, mas tão impactante como se estendesse para mais.

Viu quando o choque com picana elétrica o fez acelerar matadouro adentro, entre grunhidos e gemidos. Ficou em conflito sobre como denunciar maus-tratos se tudo ali evoca isso. De quais maus-tratos pode se livrar um animal criado para ser maltratado?

De um tipo ou de outro? Porque não permitirão que de todos. E os demais que são institucionalizados e geralmente apoiados? O próprio viver, pelo que não pode ser, é uma experiência de maus-tratos.

O que é essa experiência de viver para ser separado, mutilado, confinado e transportado para ser forçado a descer e morrer brutalmente lá dentro senão maus-tratos? Os maus-tratos estão somente nos vergões ou na condição imposta a esse animal e que não pode ser dissociada de um inerente mal?

A carne é um produto de maus-tratos, não pelo que, por conveniência e legalmente, são maus-tratos, e que podem parecer que não ocorrem o tempo todo, mas nunca deixam de ocorrer, e sim pelo que é irrealizável senão por um exercício de subjugação sobre um corpo que não manifesta desejo de ser subjugado.

O olhar comum para os maus-tratos é seletivo sobre o que são maus-tratos. Maus-tratos são o que não ameaça o interesse humano, porque se entra em conflito com o interesse humano dirão que não há maus-tratos. E como isso é perpetuado senão pelo consumo?

Leia também  “Um porco escapa do abate e volta pelos outros“, “O mau cheiro vem do porco ou da exploração do porco?“, “Dando choque em porcos no matadouro“, “A miséria dos porcos vem do apetite humano“,

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

Uma resposta

  1. Imagine uma situação em que, ao solicitar ao garçom aquele prato que tem barriga de porco (pra ficar no exemplo acima), e que, de repente, em vez de uma bossa nova lounge ou ritmo equivalente, as caixas de som do restaurante reproduzissem os gritos agudos e guturais de porcos sendo abatidos enquanto os clientes comem… Será que dessa forma tão explícita e direta essas pessoas fariam a conexão entre o que comem e o que há por trás do que pagam?

    Elas querem acreditar que ao pedir a conta estão pagando pelo prato e pelo serviço ali oferecidos. Não querem lembrar que financiam também cenas como a da imagem acima.

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