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Até quando a crueldade animal será normalizada?

Foto: Animal Outlook

Quando são divulgadas imagens de espancamento de animais a caminho do matadouro, antes do abate ou em alguma fazenda ou instalação, independente de serem animais criados para obtenção de carne ou outra finalidade de uso/consumo, logo isso é definido como “crueldade animal”.

Ou seja, a “crueldade” é aquilo que foge a “normatização”, “ao que é institucionalmente aceitável”, ao que é reprovável por ser um “excesso”. Isso também significa não olhar para a possibilidade do reconhecimento da “normalidade” como “crueldade”.

A existência de uma maioria que aceita uma prática que poderia ser identificada como cruel mesmo no núcleo de sua “usualidade normatizada”, mas não é, desfavorece a identificação de um mal como uma crueldade.

Não penso em “mal” em um sentido incomplexo, de simples vilania, e sim partindo do entendimento de que, independente de qual seja a prática específica, se imponho algo nocivo a alguém, quando essa imposição é “essencializada” por um interesse prescindível, não posso descartar isso como um mal.

Além disso, a ideia de reconhecer a “crueldade animal” a partir de um “nível excedente de violência/sofrimento” é perpetuar um determinismo em que devemos permitir “uma gradação de crueldade que não ultrapasse o que não podemos mais chamar de ‘não crueldade’”.

Então isso é como dizer que não há nada de errado na violência e no sofrimento que impomos aos animais, desde que possamos não reconhecer essas injunções/consequências que sentem em suas peles como cruéis.

Como estamos inseridos em uma sociedade em que ser violento com os animais, desde que “justificado por pretensos benefícios humanos”, não é assimilado como crueldade, há uma impercepção do normal como cruel.

E porque acredita-se que o que é legitimado por sua “naturalização” gera um efeito em que combinar essas palavras em relação a um cenário real é uma antinomia, um paradoxo por excelência evocativa do costumário endossado pela maioria.

No entanto, se olhássemos para a realidade comum dos animais, sem a defensiva da priorização de nossos interesses, o que nos impediria de perceber que a violência é cotidiana e intrinsecamente cruel?

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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