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“Besteira” e “asneira” são palavras especistas

Foto: Pixabay

Pode-se notar como algumas “sutilezas da língua” têm o especismo como motivo semântico. Dois exemplos que não tendem a ser pensados são as palavras “besteira” e “asneira”.

Embora besteira possa ser utilizada tanto com uma conotação “mais leve” quanto ofensiva, o vocábulo surge como o que a “besta faz”, o que é “comum à besta”, e besta como o que no passado consolidou-se em referência a animais não humanos, como tipo de sinonímia para “irracionais” e “animálias”.

No comum, não entende-se fazer “besteira” como fazer coisa boa, talvez sim uma ironia ou sentido que não tem equivalência inerentemente positiva, como chamar alguém de “besta” de forma “não ofensiva”, sem tirar disso o sentido de que ser “besta” é fazer algo que não pode ser qualidade porque é reprovável.

Em passado distante, mesmo na defesa dos animais o termo “besta” costumava ser alternativa ao “bruto”, influenciado pela ideia da “grande cadeia hierárquica do ser”.

A “besta” ganha o sentido de separação entre o “superior” e o “inferior”, com a besta sendo determinada como “inferior” ou mesmo combatível. O que é “bestial” também é o que é animalesco, imoral, repugnante, depreciativo.

No cristianismo a besta torna-se elemento da ideia maniqueísta do maligno, execrável, combatível. O sentido intensifica-se pela percepção ainda mais pejorativa dependendo do contexto e apropriação.

Falar em “besteira”, no sentido primeiro, é falar, por mais equivocado que seja na literalidade, em “o que um animal não humano faz”, sendo ele o sentido de besta que não pode ser inerentemente humana, e menos ainda idealmente humana.

A besta, se tem forma também humana, é essa forma que é “prejudicada pela forma não humana”, que “existe para corromper o que é moralmente humano”, nessa especista ideação.

“Asneira” referencia também de forma pejorativa o que o “asno faz”, embora, por contradição, não seja o que o “asno faz”, como o jumento, o jegue e o burro.

Dizer que fez “asneira” é dizer que fez o que esses animais fazem – numa desqualificação que carece de sentido. Mais equivocado é o “falar asneira”, porque como esse falar, que é um dizer reprovado, pode justamente ao asno ser associado?

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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