Desmatamento provocado pela agropecuária está mudando o clima no Brasil e afetará a economia

Um relatório de 40 páginas publicado pela think tank Planet Tracker em setembro destaca que o desmatamento provocado pela agropecuária está mudando o clima no Brasil e afetará a economia.

Segundo a publicação, o desmatamento não é somente um dos grandes responsáveis pela mudança climática global, com todas as consequências potenciais enfatizadas pelo recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mas também pelas mudanças no clima no Brasil.

“Há um aumento da probabilidade de dias com temperaturas extremas (impactando a saúde humana, safra, viabilidade e produtividade do trabalhador em todas as indústrias, não apenas na agricultura).”

Os autores, Peter Elwin e Christopher Baldock, frisam também que o Brasil deve enfrentar mais problemas envolvendo redução e mudanças nos ciclos de chuvas.

“Além de reduzir a quantidade de chuvas, o desmatamento contínuo pode encurtar ainda mais a estação das chuvas, ameaçando a produtividade das safras e colocando pressão sobre o sistema de dupla safra que aumentou significativamente a produtividade agrícola do Brasil nos últimos anos”, frisam.

“No estado de Rondônia, o início do período de chuvas mudou nas últimas três décadas. No entanto, onde não ocorreu forte desmatamento, o início do período não mudou significativamente.”

Moratória da Soja e custo econômico

Além disso, o desmatamento coloca em risco o abastecimento dos rios, com consequências negativas para o abastecimento de água, geração de energia hidrelétrica e exportações por transporte fluvial.

O relatório ainda faz um alerta envolvendo a falta de seriedade em relação ao cumprimento da Moratória da Soja, um acordo pelo fim da aquisição de soja de áreas desmatadas ilegalmente.

“Os investidores devem continuar apoiando a Moratória da Soja na Amazônia e devem exercer pressão para estabelecer semelhantes acordos que cobrem outros biomas ameaçados, como o Cerrado brasileiro.”

O desmatamento da Amazônia tem diminuído a evapotranspiração, o que pode reduzir as chuvas, promovendo mudanças na precipitação que impacta nos padrões de cultivo, ou seja, na produção agrícola.

Isso significa que desmatar pode parecer barato e conveniente, mas as consequências vão se acumulando e afetam negativamente também as atividades agrícolas no Brasil. “As florestas são um componente-chave nos ciclos de água, carbono e energia, então desempenham um papel na regulação do clima local e regional”, ressaltam os autores.

Mudanças no ecossistema da Amazônia

“As florestas da Amazônia e do Cerrado são tão vastas que têm um impacto muito significativo nos padrões climáticos regionais e são fontes essenciais de água para os rios na América do Sul, particularmente para a Bacia do Rio da Prata.”

O relatório “No Rain on the Plain” cita um artigo dos pesquisadores Thomas Lovejoy e Carlos Nobre, publicado na revista Science, que frisa que o desmatamento de 20-25% da Amazônia já é o suficiente para promover radicais mudanças no bioma, fazendo com que passe a ter um ecossistema semelhante ao de uma savana, e não mais de uma floresta tropical. Isso também seria devastador para a economia brasileira, segundo os autores.

“Há uma forte probabilidade de que novas atividades de desmatamento irão encurtar a estação chuvosa e reduzir a precipitação no Brasil, tornando muito provável que a produção de soja (e outras culturas, como milho) caiam nas áreas já cultivadas.”

O relatório aponta que o desmatamento irá impulsionar as mudanças climáticas locais principalmente em áreas importantes para a agricultura de Mato Grosso e Matopiba – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

“Portanto, preservar a Amazônia não é apenas essencial para a saúde da humanidade em geral. O Brasil também tem um forte motivo para conter o desmatamento, já que não fazer isso provavelmente prejudicará suas receitas de exportação e a subsistência dos agricultores brasileiros.”

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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