Empreendedoras popularizam o veganismo na zona oeste do RJ

Lívia Lima e Bruna Guimarães criaram recentemente o Portal Coletivo, que ajuda na promoção do veganismo (Fotos: Divulgação)

Hoje, quando se fala em veganismo no bairro Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, é muito comum alguém citar a Veganice Carioca, uma iniciativa de popularização do veganismo por meio do paladar que nasceu na garagem de Lívia Lima, que começou oferecendo opções de salgados e búrgueres sem nada de origem animal a preços acessíveis.

Em cinco anos, a Veganice cresceu e ganhou as feiras do Rio – como Vegbora, Tati Inti, Casa Bosque e Vegazô, entre outras. “Fui ficando conhecida. Fabrico uma salsicha de grão-de-bico incrível, e o notdog [cachorro-quente vegano] virou o carro-chefe. Já fiz um documentário para a UFRRJ, fui matéria do Jornal Extra. Hoje as pessoas falam que existe um antes e depois de conhecer a Veganice Carioca, pela qualidade no sabor e acessibilidade no preço”, informa.

E são esses predicados que fizeram e fazem com que os moradores de Campo Grande e de outros bairros do Rio, que conheceram o universo da Veganice, começassem a ver o veganismo como uma realidade muito mais próxima do que pensavam.

“Antes essa parte alimentar do veganismo se limitava a compras no sacolão. Fui a primeira a trazer o conceito bistrô/restaurante para o bairro. Ainda me emociono com os depoimentos que recebo, quando as pessoas dizem que mudaram a alimentação depois que conheceram a Veganice. Ou que conseguiram veganizar alguém.”

Para conhecer melhor a Veganice Carioca e o Portal Coletivo, novo projeto criado por Lívia Lima em parceria com a amiga Bruna Guimarães, a VEGAZETA entrevistou Lívia. CONFIRA:

Como surgiu a ideia de dar enfoque ao veganismo acessível por meio da Veganice Carioca?

Meu filho nasceu alérgico a leite e ovo. Tive de mudar toda a alimentação de casa. Aí percebi que era errado tirar uma vida para satisfazer um ego meu. A carne é uma vida. Não quero me alimentar de cadáver. E percebi que todos os produtos veganos que queria comprar eram caros e que muitas pessoas desistiam por isso. Então comecei na minha garagem, vendendo salgados e hambúrguer.

Já conseguiu alcançar muitas pessoas por meio dessa iniciativa?

Sim! No início, eu era a louca que vendia lanche sem carne e queijo [risos]. O veganismo era elitizado e havia poucos clientes. Então resolvi fechar a lanchonete e investir em feiras: Vegbora, Tata Inti, Casa Bosque, Vegazô, etc. Assim fui ficando conhecida.

Você comentou que a pandemia prejudicou o trabalho da Veganice. O que tem feito para lidar com a situação?

Sim, tivemos que fechar o espaço físico na minha garagem. No início foi complicado, mas adaptamos para o delivery e tudo foi se acertando. Não tive patrocínio, mas tive a minha amiga e sócia do Portal Coletivo, Bruna, que ficava comigo até tarde na cozinha, ajudando no preparo.

Como nasceu o recente Portal Coletivo?

O Portal Coletivo surgiu de uma ideia louca minha e da Bruna de reunir tudo em um só lugar. Achávamos impossível, até tudo ir acontecendo naturalmente. Ela queria terapias e artesanato e eu queria gastronomia vegana, e juntamos tudo isso. Funcionamos de terça a sábado, e quando passar a pandemia vamos voltar com nossa feira, que era a VegYoga.

Onde é o espaço colaborativo do Portal e conta com quantos expositores?

Funciona aqui em Campo Grande, na rua Coxilha, número 11. Quando você entra na casa já sente uma paz. A Bruna criou um cheiro próprio para o espaço. Na entrada, temos nichos com os expositores, uma tabacaria e um bar, além de aula de Yoga. No corredor há uma sala de terapias alternativas e um estúdio de tatuagem. E na parte de trás, há um espaço com brechó, antiquário e a Veganice Carioca – com bistrô e empório. A nossa ideia foi unificar. Tomamos conta de tudo. O expositor não é obrigado a ficar, mas precisa ir pelo menos uma vez por semana para repor mercadoria e conferir as vendas. No Portal, contamos com mais ou menos 25 expositores de artesanato e na gastronomia somos em sete, além de nutricionista vegana, psicológica, quatro terapeutas e um massagista. E temos fila de espera de alguns produtores.

Quais são os diferenciais da iniciativa? Você comentou que oferecem produtos que não são encontrados em outros locais.

O diferencial em abrirmos o Portal Coletivo foi a necessidade de ajudar e juntar tudo em um espaço só. São poucos os locais aqui no RJ e o único na Zona Oeste. Nos baseamos em coletivos de São Paulo e Amsterdã para criar o Portal. Os produtos não encontrados em outros locais passamos a vender na Veganice já aqui no portal, como os leites em pó. Somos o único local do RJ que vende.

É difícil reunir uma grande diversidade de produtos veganos acessíveis no mesmo local?

Não, porque as pessoas conhecem a Veganice, sabem da minha seriedade com o trabalho. E em um momento de crise foi como uma luz para muitos.

O Portal Coletivo completou um mês em 14 de setembro. Como tem sido a receptividade?

Nos assustamos com a receptividade. As pessoas estão amando, e todo dia recebemos novos visitantes. Não esperávamos isso no primeiro mês, foi surpreendente.

Teve algum momento de grande dificuldade como empreendedora vegana?

Esse projeto não seria possível sem a Bruna. Ela era cliente da Veganice lá no início, e sempre apoiou, vibrou, torceu, chorou. Em 2019, tive a chance de abrir um espaço físico no centro de Campo Grande. A Veganice estava linda, em um centro comercial incrível. O que poucos sabiam é que minha filha caçula (de seis meses) teve alta dias antes da inauguração. Ela ficou internada em estado grave com H1N1 e VSR. Esteve na UTI em estado grave por dez dias. Os clientes ansiosos pela inauguração e eu dividida entre passar todos os dias ao lado dela e despachar pelo celular, fazer compras, etc. Não saí um dia da UTI. E tive meu marido e sócio na Veganice, que é meu anjo, que cuidou de tudo, mesmo com a vontade de estar ao nosso lado.

Você acabou fechando a loja no centro comercial?

Como mãe, não me senti pronta para assumir a responsabilidade de uma loja. Eu virava a noite produzindo, e durante o dia estava lá atendendo. Era uma correria. Até que um dia, meu filho do meio, na época com cinco anos acordou no meio da madrugada e disse: “Mamãe, posso ficar com você? Esse é o único momento que está em casa comigo.” Então me peguei com um bebê de seis meses e o outro de cinco anos, também tenho uma folha de 20 anos, e minha vontade de veganizar. Foi difícil, mas optei por fechar o espaço físico no centro comercial e voltar a atender na minha garagem, como no início de tudo. Perdi alguns clientes? Sim, mas ganhei muito mais do que perdi, sem sombra de dúvidas. E surgiu a oportunidade de abrir o Portal. Lá, a primeira coisa que fizemos foi colocar um espaço kids. E tem grama na frente, onde pais e mães, como eu, podem deixar os filhos à vontade.

Algum plano para quando a pandemia passar?

Sim, no Portal Coletivo, teremos karaokê liberado toda sexta e música ao vivo no sábado. Também vamos retomar atividades como Roda do Sagrado Feminino, workshops, roda de conversa, sarau, clube de leitura, aula de culinária vegana, feiras, exibição de filmes, etc. Tudo voltado para o veganismo. Para novembro, já está marcada uma roda de conversa com @periferiapretavegana no Dia da Consciência Negra e no próximo mês teremos atividades para as crianças.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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