O que é um “chimpanzé de laboratório”? E um “rato de laboratório”? Ao me deparar com a divulgação na mídia de que um “chimpanzé de laboratório olhou o céu pela primeira vez”, pensei em como matérias que evidenciam as consequências do especismo não deixam de reproduzir e endossar o que é determinado pelo especismo.
É um equívoco dizer que um animal é de laboratório. Como um animal pode ser de laboratório? Como um animal pode reconhecer-se como de laboratório? O laboratório é imanente ao animal ou o animal é imanente ao laboratório? Se dada a oportunidade de um animal não ser submetido aos interesses humanos em um laboratório, que envolvem privação e dor, o que ele escolheria?
O habitat de um animal é o laboratório? Dizer que um animal é de laboratório, não que está ou é submetido a um laboratório, é atribuir uma relação tão essencial quanto instrumental – como se houvesse um fator intrínseco. Mas isso faz sentido? Se tudo que o animal vive no laboratório é sobre o que se deseja obter dele, sendo o mal dele e que, portanto, não pode ser em benefício dele.
Mesmo um animal nascido nas dependências de um laboratório não tem aptidão para expressar por vontade própria os interesses humanos dentro desse laboratório. Ele deverá ser submetido e condicionado aos interesses no laboratório, porque, independentemente de onde o animal nasce, continua sendo expressão de sua animalidade.
Nas discussões sobre a notícia há muitas pessoas que defendem o uso de animais não humanos porque, segundo elas, é o que determina a ciência. É uma afirmação abstrata, de permissividade acrítica, como se a ciência existisse para ser colocada acima de todos os outros animais. Devemos acreditar que o objetivo da ciência deve ser perpetuar o supremacismo humano, se a ciência existe também para a evolução das práticas humanas?
Sugiro também uma reflexão que concentra a contradição do uso de animais. Dizemos que os animais não humanos são semelhantes a nós quando a exploração depende da semelhança, por outro lado, dizemos que são diferentes de nós quando a exploração depende da diferença. Não é uma conveniente incoerência?
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