Pesquisar
Close this search box.

Frangos e galinhas vivem pouco porque o consumo humano impede que vivam mais

Não é difícil ficar surpreso com um animal que “vive muito" se nossos hábitos determinam que a maioria deles viva o mínimo possível

Lendo sobre uma galinha que morreu com 21 anos, me recordei de uma galinha garnizé que conheci há alguns anos e que também chegou aos 21 anos. Devemos achar normal que animais que podem ter uma vida longa livres da exploração sejam mortos tão jovens? Mesmo que não pudessem, que direito temos de encurtar suas vidas?

Normalmente a surpresa sobre o potencial de uma galinha em envelhecer está relacionado também a um absurdo número de galináceos que são criados para um fim extremamente precoce. Então a atenção e admiração também resultam do que em oposição é comum, mas sem que se estabeleça uma conexão.

Assim a galinha que “vive muito”, se é rara, é rara também pela determinação humana. Logo não é difícil ficar surpreso com um animal que “vive muito” se nossos hábitos determinam que a maioria deles viva o mínimo possível.

Que experiência de vida pode ter uma galinha que tende a ser descartada, em média, com um ano e meio a dois anos de idade? E um frango criado para morrer com um mês a um mês e meio de idade? Ainda que não vivam tanto quanto os animais citados no primeiro parágrafo, não há dúvida da gritante diferença entre o que poderiam viver e o que realmente vivem quando submetidos a interesses de consumo.

Mesmo muitas pessoas que admiram a longevidade de uma galinha provavelmente ignoram que são os hábitos de consumo que resultam na morte diária de tantos animais que não terão a oportunidade de conhecer uma vida de não exploração nem de envelhecer.

Claro que o tempo que um animal pode viver não deve ser o mais importante referencial para não matá-lo, no entanto, se animais vivem pouco, isso é consequência da alta demanda baseada na exploração desses animais.

Os casos de animais normalmente criados para exploração, mas que não vivem para a exploração, e que têm longas vidas, atraem atenção de uma forma que geralmente não leva a uma importante consideração.

Ou seja, a ponderar sobre a discrepância que existe entre um viver no seu máximo potencial, e como expressão do que é um interesse do próprio animal, e um viver no seu mínimo potencial, como expressão do que não é um interesse desse animal.

E a diferença entre o animal que vive mais e o que vive menos tende a se tornar cada vez maior pela demanda de consumo, bastando comparar a realidade atual com a de décadas anteriores.

Leia também “Por que quando se fala em gripe aviária a realidade dos frangos é ignorada?” e “Galinhas não costumam ser vistas como fêmeas“,

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *