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Por que quando se fala em gripe aviária a realidade dos frangos é ignorada?

Por que ignorar que o problema está no próprio sistema financiado por meio do consumo?

O que você pensa ao ler que mamíferos marinhos estão morrendo no Rio Grande do Sul em consequência da gripe aviária? Diria que é o acaso? Que é uma fatalidade? Que não há nada a ser feito a não ser torcer para que isso não ocorra mais?

Que tal culpar os aviários, a indústria? Mas quem financia os aviários e a indústria? Por que ignorar que o problema que impacta na vida de outros animais e também na vida humana está no próprio sistema financiado por meio do consumo?

E para piorar, o consumo de frango tem aumentado, não diminuído, e quanto mais aumenta, maior pressão há sobre sistemas “mais eficientes de produção”. Isso significa também exigir que animais se desenvolvam mais rápido, o que só é possível submetendo-os exatamente ao sistema intensivo, que é meio ideal de proliferação de doenças.

Também podemos pensar em outros casos em que a gripe aviária resultou em mortes consequenciais e não planejadas, e não é difícil perceber que o problema começa nos nossos costumes alimentares, já que estamos gerando e disseminando doenças por hábito, por predileção e por interesse econômico.

Se consumimos frango, não temos responsabilidade sobre esse tipo de realidade? Mesmo quem diz não consumir carne a partir desse sistema (que é uma minoria da minoria, já que a maior parte do consumo de frangos é proveniente do sistema industrial), contribui com essa realidade só pela manutenção da crença de que frangos são “somente” animais comíveis.

“Reformistas” alegam que o problema não está no consumo. Mas pode outro sistema atender a uma demanda tão elevada pelo consumo de animais? Não foram os consumidores que possibilitaram esse sistema e fizeram-no crescer?

Muitas pessoas falam do sistema industrial de criação de animais para consumo como se ele tivesse surgido por acaso, como se não estivesse atrelado aos anseios por uma carne de “menor custo”.

Mas o “menor custo” é o maior custo que não é considerado – seja em relação à inerente crueldade institucionalizada contra os animais e às outras consequências geradas a partir do que é imposto a esses animais. Enfim, não há solução que não seja libertar os animais das cadeias de consumo.

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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