Voltando para casa, viu um caminhão que transporta porcos para um matadouro parado em frente ao semáforo. Nunca tinha prestado atenção nesse tipo de veículo. Era como se existissem sem existir, passando despercebidos – um ver sem ver. Não parecia relevante observá-los. Por quê? É só mais um veículo entre tantos que passam pelo mesmo lugar com certa frequência.
Atentou-se ao caminhão porque ouviu guinchos e gemidos de um porco, que se debatia contra a lateral interna da carroceria. Do contrário, nem teria olhado. A ação do porco agitava também os outros. Quando tentou se aproximar para ver melhor, o sinal verde acendeu e o caminhão saiu.
Não conseguiu mais ouvir os guinchos do porco, que não eram só de um porco. Não achou que tivessem acabado. Acabaram apenas para ele que não acompanharia o caminhão. Mas se esforçou para não idear demais sobre o incômodo do porco. Pode ser que porcos façam barulho por qualquer coisa, ou não – refletiu.
Nunca tinha pensado no interesse do porco em não estar no caminhão. Parecia natural que estivesse lá. Em casa, encontrou um pedaço grande de bacon cru em um prato sobre a mesa da cozinha. Parecia diferente do dia anterior, como se tivesse mudado. O que é bacon? – refletiu, ouvindo um guincho.
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