Longe da exploração, elefantes podem chegar aos 70 anos

“Os elefantes têm grandes cérebros e uma memória incrível” (Foto: Pixabay)

Não deveria ser novidade que os animais que a humanidade utiliza como meio de entretenimento, incluindo desde apresentações até passeios com turistas, têm a expectativa de vida reduzida em consequência de anos de exploração, o que começa quando são retirados do próprio habitat ainda muito jovens.

Uma das maiores vítimas dessa realidade são os elefantes, que na natureza ou em grandes espaços naturais podem viver até 70 anos, mas dificilmente chegam perto disso quando submetidos a treinamentos severos, maus-tratos e confinamento, ou seja, situações não naturais que geram inúmeras consequências.

Há uma estimativa da organização Proteção Animal Mundial de que na Ásia até 16 mil elefantes são submetidos a cativeiro e utilizados em performances e transporte de turistas. A situação também é preocupante na África, onde há outro problema grave envolvendo a caça de elefantes.

Não por acaso, hoje as duas espécies mais conhecidas e mais exploradas no mundo são o elefante-asiático e o elefante-africano, já utilizados em circos no Brasil. O segundo é maior e pode chegar a três metros de altura e 7,5 mil quilos. Independente de origem, o tamanho desses animais é o que mais chama atenção das pessoas. No entanto, muitas desconhecem como eles são sensíveis, inteligentes e têm boa memória.

“Os elefantes têm grandes cérebros e uma memória incrível. Eles conseguem reconhecer outros elefantes e pessoas anos, e até mesmo décadas, depois de terem os visto pela última vez”, informa a Proteção Animal Mundial.

Importância da boa memória

O Santuário de Elefantes Brasil cita um episódio em que duas elefantas se cumprimentaram em um santuário nos EUA como se fossem companheiras de longa data. Logo descobriram que elas conviveram por alguns meses há 23 anos.

” Sempre que Jenny se deitava, Shirley ficava a seu lado, fazendo sombra com seu corpo para protegê-la do sol e se tornando uma barreira contra algum perigo”, relata.

Segundo a Proteção Animal Mundial, a boa memória também ajuda os elefantes em tempos de seca a encontrarem bebedouros que podem ter usado décadas atrás. “Além disso, pesquisadores notaram que os elefantes aparentemente reconhecem e rastreiam a localização de até 30 companheiros por vez.”

Elefantes também se reconhecem no espelho e usam as trombas como snorkels quando nadam debaixo d’água. “E as usam para sugar água ou poeira e espalhar sobre suas costas – a poeira serve para proteger suas peles sensíveis dos raios solares”, ressalta a organização, acrescentando que as trombas são um meio de manter laços sociais por meio de toques, carícias e para cheirar.

A Proteção Animal Mundial garante que cientistas que estudam o comportamento dos elefantes já registraram ao menos 70 tipos de vocalizações e 160 diferentes sinais visuais e táteis, expressões e gestos.

“Além de rugidos, estrondos, trombetas e sons de bufado, alguns ruídos emitidos por elefantes têm uma frequência muito baixa, os quais nós não conseguimos ouvir, mas os elefantes sim – de até 80 quilômetros de distância. Eles usam esses sons por vários motivos, como chamar outros de volta para a manada e alertar sobre perigos.”

Jardineiros que contribuem com o equilíbrio ecológico 

Muitas pessoas também não sabem que os elefantes atuam como jardineiros e contribuem com o equilíbrio ecológico. “Por meio de seu esterco, eles plantam as sementes de plantas, arbustos e árvores. Isso faz com que ecossistemas inteiros dependam deles, já que suas atividades de jardinagem ajudam ambientes a se regenerar e fornecem abrigo, comida e água para muitos animais menores”, exemplifica a entidade.

Um estudo publicado em 2019 na revista Nature Geoscience revelou como os elefantes-africanos têm ajudado as árvores a estocarem mais carbono e, dessa forma, a combater o aquecimento global.

De acordo com o pesquisador Fabio Berzaghi, do Laboratório de Ciências Climáticas e Ambientais e do Clima (CEA), da França, eles descobriram que a redução da densidade do tronco florestal devido à presença de elefantes, que desbastam naturalmente as árvores, leva a mudanças na competição por luz, água e espaço entre as árvores – mudança que favorece o surgimento de maiores árvores com maior densidade de madeira.

“Essa mudança na estrutura da floresta tropical africana e na composição de espécies aumenta o equilíbrio a longo prazo da biomassa acima do solo”, informa o pesquisador.

“Esses resultados são confirmados por dados de inventário de campo. Nós especulamos que a presença de elefantes pode ter moldado a estrutura das florestas tropicais da África, o que provavelmente desempenha um papel importante em comparação com a floresta tropical da Amazônia.”

Eles concluíram que os distúrbios provocados pelos elefantes nas florestas africanas geram incremento na biomassa de 26 a 70 toneladas por hectare. Por outro lado, a extinção dos elefantes resultaria em redução de 7% da biomassa acima do solo nas florestas tropicais da África Central.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Uma resposta

  1. Algumas espécies humanas daninhas e malignas serão extintas, naturalmente, quando expirar seu “prazo de validade”. Enquanto isso, porém, há que se mante-las longe das espécies pacíficas e benditas, a fim de preserva-las. De preferência entre as quatro paredes de uma jaula, em nome da Lei e da Justiça.

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