Sue Coe diz que nunca esquecerá o que viu nos matadouros

“Não é necessário que alguém entre em um matadouro para ver e entender o que acontece lá dentro” (Arte: Sue Coe)

Questionada sobre como faz para conseguir entrar em matadouros onde nenhum jornalista entrou antes, a ilustradora vegana Sue Coe explica que tudo depende da abordagem e das ferramentas que você carrega.

“Levo apenas papel e lápis, e as pessoas podem ver o que estou fazendo. Não estou roubando nada. Não vou tirar nada. Se eles querem meus desenhos, eles podem tê-los. Contanto que eu não retrate trabalhadores como monstros, o que nunca faço de qualquer maneira, embora algumas vezes tenha feito isso, preciso admitir”, revelou em entrevista a Caryn Hartglass no podcast “It’s All About Food”.

Sue Coe prefere visitar matadouros menores porque esses são os que menos dificultam suas visitas. Mesmo assim, ela sempre se depara com uma mesma situação – funcionários de matadouros com receio de ficarem desempregados.

“Não querem ser atacados por ativistas dos direitos animais. Então eles me veem e apenas conversamos sobre qualquer assunto que queiram. Muitos deles são falantes de espanhol. Então dou-lhes um desenho e podem olhar e dizer se devo mudar alguma coisa. Eles apenas olham e dizem: ‘Ah, isso é bom! Você poderia ser estenógrafa’”, relatou.

Para um livro, Sue Coe visitou de 35 a 40 matadouros

Sue perdeu as contas de quantos matadouros visitou ao longo de décadas. Só no livro “Cruel: Bearing Witness to Animal Exploitation”, de 2012, ela traz ilustrações de experiências em 35 a 40 matadouros.

“É muito mais fácil entrar em matadouros halal [islâmico] ou kosher [judaico] porque são pequenos, de propriedade familiar. Os maiores são da IBP [International Pork and Beef]. Entrei [em matadouro deles também], mas foi muito difícil. Costumo chegar dizendo: ‘Sou uma artista. Gostaria de desenhar.’ Eles dizem sim ou não”, resumiu.

Quando permitem que Sue Coe visite um matadouro, ela é revistada e em seguida entregam-lhe um uniforme.

“Não é necessário que alguém entre em um matadouro para ver e entender o que acontece lá dentro. Você esquece muito rapidamente, pessoas esquecem, mas nunca esquecerei. Vou fazer isso até morrer porque é minha responsabilidade com os rostos que vi. Esse é o meu trabalho. Essa era a vida deles. Eu os vi. Eles olharam em meus olhos e me viram”, garantiu a ilustradora a Sunaura Taylor, da Bomb Magazine.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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