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O animal não cabe dentro do interesse humano

Ele transborda o que não é interesse humano

Foto: AE

Ver o interesse dos animais não significa querer ou fazer com que esse interesse prevaleça, mas reconhecer esse interesse é reconhecer também um conflito de interesses.

Mesmo que o interesse deles não prevaleça, dizer que não há um interesse conflitante não faz o menor sentido, embora seja comum porque gostamos de promover a ideia de que os animais experimentam e vivem o que devem experimentar e viver.

É como se suas vidas não pudessem (pelo imperativo do não dever) ser outra coisa que não resultado desse interesse. Mas mesmo impondo limitações aos animais com base no interesse humano, o animal não cabe dentro do interesse humano, porque ele transborda, e transborda o que não é interesse humano.

Ele sempre ultrapassa esse interesse, independentemente de onde veio e para onde vai, e porque o animal não humano não pode reconhecer-se como na medida do interesse humano. Como pode uma vida senciente ser medida do interesse utilitário de outra vida?

Há sempre algo no animal não humano que não pode ser compatibilizado com nosso interesse deslocado do interesse dele. Quem pode dizer que um animal vive dentro da medida perfeita de nossa vontade e porque ele é a medida perfeita de nossa vontade? E que fora de nossa vontade, esgota-se o animal porque nada há nele além disso. Isso só seria possível se o animal não fosse animal, se fosse vazio em vontades e interesses.

Não importa se pensamos em animais criados nas piores condições ou em condições consideradas aceitáveis aos objetivos que definimos. Qualquer ideia de que um animal pode ser resumido a uma vivência que é vivência em forma da realização de um desejo humano equivoca-se se conclui que o animal “é o que é” porque ele não pode ser nada além de limite ou extensão do que queremos.

É pelo transbordamento de si, não humano, que impomos os limites que destroem os animais para que não sejam quem são, para que não possam ser quem são. É na mistura contraditória do “quem” e do “que”, que sobre eles decidimos o que queremos, como o tempo de viver e o tempo de morrer.

Assim o animal é vida para o que queremos a partir da vida (o que é permitido como vida) e morte para o que queremos a partir da morte.

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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