
Falaram que os carneiros sabiam que morreriam. O lugar tinha cheiro de morte. Eles se amontoaram, juntando pelo tosado com pelo tosado. Primeiro a lã e mais tarde a carne. Baliam juntos, parando apenas para recuperar o fôlego.
Depois continuaram. Esperavam algum tipo de intervenção? Não tinham como sair. E a parede trazia marcas dos carneiros que passaram por ali antes deles. Arranhões, choques, batidas, dores. Riscos de sangue trazem histórias. Tentativas infelizes de salvação.
Corpos se movimentavam ganhando formas de súplicas. Como sempre, desatendidas. Um sentia a vida do outro, reconhecia essa vida. Tentavam ir mais para o fundo, mas já estavam no fundo. Esperavam que a parede pudesse se abrir e todos fugiriam?
Imaginei como desejariam um buraco que os levasse para algum lugar onde nada disso seria uma realidade. Quem não quer evitar o sofrimento desnecessário? A pressão intensificava o sentir outros corpos. Troca de calor, coração acelerado, movimentos constantes e inconstantes.
Um carneiro morreu ali mesmo. Morte súbita. Isso só aumentou o terror dos outros. Se vissem como são mortos, prefeririam. Outro carneiro levantou várias vezes as orelhas. Ouviu algo. Um golpe? Um último balido? Ou gemido? Ficou mais agitado, mais nervoso. Os outros também. O medo, como percepção, contagia.
Fizeram mais pressão contra a parede. Deixaram somente marcas e cheiros. Foram arrastados um a um, separados com choques e empurrões. Como é saber que a morte se avizinha? Isso faz pensar na pergunta feita no romance “Desonra”, de J.M. Coetzee. Há quanto tempo os carneiros não morrem de velhice?
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Uma resposta
Quanta falta de amor , respeito para animal inocente. Um campo, um lugar de martírio e sofrimento imposto pelo ser chamado humano, com inteligência e sabedoria; mas sabedoria de que? inteligência para que? O primitivismo ainda habita .