Por que bois fogem? Sabem que vão morrer ou apenas não querem mais ficar no mesmo lugar? Algo atraiu a atenção deles? Ficaram assustados com algo? Medo? Foram maltratados?
Dependendo de como percebemos os bois, podemos pensar em muitas perguntas e respostas, que podem ter mais ou menos coerência, que podem ter relação ou não com a experiência e percepção desses animais.
Quando histórias de fugas de animais são narradas, elas vêm acompanhadas de uma impressão sobre o que pode ter motivado o animal, o que ele pode ter sentido ou visto. Se ele estava a caminho de um lugar ou em um lugar e foge, concluímos que o animal rejeitou tal lugar.
Mas deveria ser um fator determinante se a fuga de um animal tem relação com uma intenção envolvendo o local para onde ele é enviado? Se dizemos que sim, isso permite uma interpretação de que o animal não merece esse fim porque reconhece esse fim ou algo associado a esse fim. Mas deve ser uma obrigação do animal reconhecer esse fim para ser poupado desse fim?
E os outros que não fogem merecem menos a continuidade de suas vidas? Não importa por qual motivo um animal fugiu de um matadouro, a caminho do matadouro ou de qualquer lugar. O que importa é o que foi, seria ou será feito desse animal.
A consideração não deve ser condicionada ao reconhecimento do animal, porque o erro que surge se insistimos nisso é de que o antagonismo do animal depende de uma expressão excepcional que seja validada como opositiva a essa realidade.
Olhar para exemplos de fuga e atribuir méritos é controverso porque pode fazer parecer que é a distinção e o especialismo que devem garantir ao animal uma outra consideração, que se o livra da violência, não livra outros. Mas não é esse animal em inerência, independentemente de como reage ou do que será feito dele, sempre uma vida que pela nossa vontade não deseja ser destruída?
Não deveríamos usar como referência o reconhecimento de um animal em relação a um mal, e sim o que fazemos com o animal, porque esse fazer já é o mal. A consideração sobre o animal que foge deveria evocar também todos aqueles que não fogem, porque não fugir não significa aceitar violência e morte.
Leia também “Como sofrem os bois”, “E se bois tivessem asas para fugir do matadouro?” e “Bois não sonham em virar bife”.
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