Categorias: Opinião

Por que não devemos consumir nada de origem animal

Foto: PETA

Quando consumimos algo de origem animal estamos enviando uma mensagem de que não há problema em usar animais para fins alimentícios. Muitas pessoas, mesmo entre os que criticam a exploração animal, ignoram o que existe de simbólico nisso quando sustentam que há determinados consumos que não são reprováveis.

Os dois exemplos mais comuns – criar animais em casa (dependendo da localidade) ou em uma pequena propriedade rural para “obtenção de ovos e leite”. Há muitas pessoas que não veem nada de errado nisso, usando como justificativa que trata-se de uma “prática doméstica” com sentido de “não exploratória”.

Porém esses animais já são biologicamente concebidos pelo viés da exploração. Eles não geram esse volume de leite ou de ovos porque é “natural”, mas porque foram manipulados pelo ser humano.

Então esse é outro ponto em que discordo de quem não vê nada de errado nesse consumo, porque não consumir é uma clara e não relativista expressão de oposição, enquanto consumir é apoiar o que é precedentemente exploratório sobre a condição desses animais. E como “obter” leite de uma vaca sem submetê-la à lactação que depende da reprodução?

Se a prática do veganismo já deixa claro que não precisamos consumir nada de origem animal, qual é o sentido de consumir quando nos opomos à exploração animal? Não é enviar uma mensagem contraditória e que favorece uma relativista permissividade?

Afinal, é como dizer aos outros que o problema não está no consumo e sim no método para se obter o que se deseja consumir. Mas esses animais realmente produzem algo para nós?

Também é problemático ignorar que foi a defesa de que podemos consumir o que é de origem animal que trouxe-nos à realidade exploratória atual – do doméstico ao intensivo/industrial. Quando alguém faz esse tipo de defesa de consumo de leite e ovos, penso em alguns indivíduos que se opuseram ao uso de animais há centenas de anos e muito antes da revolução industrial.

Eles compreendiam que o ato de consumir algo de origem animal já era problemático em sua representação de consumo, independentemente do contexto. O poeta sírio Al-Maʿarri, por exemplo, escreveu no século XI um poema publicado na “Luzūmiyyāt” em que condena também o consumo de leite e ovos.

Leia também “Al-Ma’arri, o poeta “vegano” do século XI“.

David Arioch S.A. Barcelos

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

Posts Recentes

A morte é uma libertação para o animal explorado?

Esta semana, quando um boi teve morte súbita a caminho de um matadouro no Paraná,…

1 dia ago

No século 19, Comte observou que humanos estavam tratando outros animais como “laboratórios nutritivos”

Em “A lição de sabedoria das vacas loucas”, Lévi-Strauss cita como Auguste Comte, mais conhecido…

2 dias ago

Homem que trabalhou em matadouro reconhece crueldade do abate

Conheci a história de um homem que trabalhou em um matadouro abatendo cerca de 500…

3 dias ago

Um humano na pele de um porco

Um dia acordou porco. Arrastaram-no para fora de casa e o enviaram para uma fazenda.…

4 dias ago

Não adianta reclamar do calor e continuar comendo carne

Se a carne é importante causa do desmatamento, e que influencia também a qualidade do…

5 dias ago

O que resta ao boi faltando pouco para morrer?

O que resta ao boi faltando pouco para morrer? O que pesa sobre ele que…

6 dias ago