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Relatório aponta pecuária como “fábrica de bactérias multirresistentes”

Foto: Proteção Animal Mundial

Em um relatório publicado este mês, a Proteção Animal Mundial define a pecuária industrial intensiva como uma “fábrica de bactérias multirresistentes”. A pecuária usa rotineiramente níveis muito altos de antibióticos. Estima-se, segundo a organização, que 75% de toda a produção mundial desse tipo de medicamento seja usada na pecuária.

Os animais, incluindo suínos e frangos, espécies de criação extremamente intensiva, são submetidos à sua utilização de forma indiscriminada e irresponsável com o objetivo de promover o crescimento acelerado e mascarar problemas de bem-estar animal.

“Testamos fontes de águas próximas às fazendas de criação de animais em sistemas industriais intensivos e também carnes vendidas nos supermercados para a presença de bactérias resistentes a antibióticos. Nossos testes de produtos cárneos revelaram bactérias resistentes em carnes no Brasil, Austrália, Indonésia, Quênia, Espanha, Tailândia, Reino Unido e EUA.”

Já nos testes de cursos d’água foram encontrados genes de resistência a antibióticos (ARGs) em todos os países testados: Brasil, Canadá, Espanha, Tailândia e EUA. As descobertas sugerem que as bactérias multirresistentes provenientes da criação de animais estão circulando pela cadeia alimentar, com implicações negativas para a saúde humana e para o meio ambiente.

O relatório indica que no Brasil, com base nos resultados dos testes de água realizados em 2021, os rios próximos de fazendas industriais intensivas apresentaram maior diversidade de Genes de Resistência Antimicrobiana (ARGs) na comparação com águas mais próximas de suas nascentes. “Foram encontradas evidências de genes resistentes a b-lactâmicos, fluoroquinolonas, macrolídeos e até mesmo agentes desinfetantes.”

Em 2018, testes de carne suína apontaram a presença da bactéria E. coli em 92% das amostras avaliadas, além de resistência a fluoroquinolonas, amicacina, sulfonamidas, ceftiofur e colistina – antibióticos considerados mais criticamente importantes ou altamente importantes para humanos, conforme definição da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Saiba mais

A resistência antimicrobiana (RAM) ocorre quando microrganismos (bactérias, fungos, vírus e parasitas) sofrem alterações e adquirem resistência quando expostos a antimicrobianos (classe de medicamentos que, além dos antibióticos, inclui também antifúngicos, antivirais, antimaláricos e anti-helmínticos, por exemplo), dificultando o tratamento de infecções e ampliando o risco de propagação e gravidade de doenças e o aumento de mortes.

As bactérias multirresistentes podem contaminar os seres humanos através dos animais, do meio ambiente ou dos alimentos e, dessa forma, representam uma grande ameaça à segurança alimentar e à saúde pública. Atualmente, 1,27 milhão de pessoas morrem a cada ano vítimas de infecções que não respondem ao tratamento com antibióticos e estima-se que até 2050 esse número salte para 10 milhões.

Clique aqui para ler o relatório completo.

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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