Se matadouros tivessem paredes de vidro, quem deixaria de comer carne?

Foto: Eyes on Animals

No documentário “Glass Walls”, Paul McCartney diz que “se os matadouros tivessem paredes de vidro, todos seriam vegetarianos”. É uma das frases de efeito mais populares contra o consumo de carne.

Mas alguém pode dizer que nem todos deixariam de comer carne. Quem diz isso tem razão, já que empatia por outros animais não é algo que todos desenvolveriam. Porém, imagino como seria um mundo com matadouros com paredes de vidro.

Eu poderia insistir em continuar comendo animais, refugiando-me numa ideia de supremacismo, alegando que a “exposição de suas mortes” não tem efeito sobre mim – porque eles devem morrer em benefício do meu paladar.

Entretanto, sendo eu um animal social, o que a indiferença em relação a essa exposição, à qual não atribuo importância, o mínimo de contrariedade ou consideração sobre a desnecessária destruição de outras vidas, diria sobre mim?

Algum efeito isso teria. As reações dos outros diante da minha própria também poderiam impactar minha percepção, e se não acontecesse, não significa que eu não a veria partindo dos outros de maneira tão óbvia e recorrente.

A repetição e a percepção que não é nossa também podem conduzir-nos a algo que não planejamos ou desejamos, que pode ser uma nova consciência em relação a uma realidade que víamos de maneira diferente.

Sem dúvida, eu teria menos recursos para dissimular a realidade, romantizar a violência do abate, porque, independente de alguém dizer que um “animal não sofre” no matadouro, as reações dos animais estariam o tempo todo ao nosso alcance e seriam muito mais expostas. Que tal suas resistências tão comuns no pré-fim?

Eu já não poderia falsear animais endossando uma ideia de “abate humanitário”, com criaturas assustadas, debatendo-se ou penduradas pelos pés e degoladas. Ademais, humanitário não seria não matar, não violar?

Acredito que matadouros com paredes de vidro não serviriam apenas para sensibilizar quem reconhece com facilidade o sofrimento animal, e a partir disso muda sua alimentação. Afinal, exporia uma face sombria humana na relação com bilhões de mortos por ano nessas instalações.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

15 respostas

  1. Sou a favor da transparência em todos os sentidos.
    Façamos um trato.
    Que tal a transferência ampla, geral e irrestrita?
    Pq não?
    Queria muito ver por exemplo, uma clínica, onde se prática aborto, ter a coragem de ter as paredes de vidro.
    Quem sabe, de repente, milhões de inocentes deixariam de ser abatidos todo ano.

    1. Muito boa essa sua colocação. Se nós ainda não somos capazes de sermos indulgente, como poderíamos ver um batedouro como um ato cruel?.

  2. Desde que mundo é mundo se come carne, há muitos falsos moralistas que dizem que não comem, que não se deve, não se pode, não é assim, ou assado , mas fazem o que lhes dão prazer, seja no paladar, hábitos, atitudes, são seres falsos, que pregam o melhor pro mundo e agem na calada em prazer e benefícios próprios, como porte de arma, comer carne vermelha, desmatamento…. E outros vários temas . Mas em casa come carne a doidado, tem um casaco de couro, cinto, carteira, banco do carro….., tem sua arma e tem mesa e cadeira de madeira e aí como fica? Existem exceções sim mas na maioria são hipócritas que pregam faça o que eu digo e não faça o que eu faço. É muito mi mi mi do inferno , haja como quiser regido pela consciência de cada um e pela lei do país e ponto. Não queiram tomar conta da vida dos outros, nem fiscalizar a natureza, quer tomar conta de mais de uma vida, então arrume um cachorro, ou gato, rato ou o diabo que for e deixem o mundo rodar em paz .

  3. O que deve ser feito é o abate dentro das normas sanitárias e práticas de bem estar do animal, pra evitar sofrimento desnecessário, mas a morte ocorrerá pela própria posição do gado na cadeia alimentar, garantindo o equilíbrio ambiental tão falado pelos mimizentos. É como o tubarão ter que matar um peixe de susto pra não praticar mais tratos mordendo e dilacerando o peixe na boca, tortura ou sei lá o que for num peixe, se não se comer os gados o que irá ocorrer de desequilíbrio no mundo? A onça pode comer carne no zoológico e na natureza que ela é protegida mas o ser humano não pode porque é cruel, tá de sacanagem, de alface e tomate pra onça! Tudo hoje em dia se vitimiza e se humaniza, muitos valores estão mudados. O que não se deve é fazer mal a natureza e nenhum ser e especialmente ao ser humano, isso resume todos os mi mi mais de hoje e as #.

  4. Eu não como e não tenho que ficar sendo chamado de falso moralismo por ninguém, tenho minha consciência tranquila que falso moralismo é sim uma pessoa querendo impor sua opinião sobre um assunto que é pessoal e parabéns aos que não comem!!! e também aos que comem más respeita o direito de quem não coma.

  5. Procurem no YouTube um documentário chamado “Earthlings”, Terráqueos. Com Joaquim Phoenix.
    Não sei se terão estômago para assistir até o fim. Não tive!

  6. Razões para rejeitar o alimento cárneo — Os que se alimentam de carne não estão senão comendo cereais e verduras em segunda mão; pois o animal recebe destas coisas a nutrição que dá o crescimento. A vida que se achava no cereal e na verdura passa ao que os ingere. Nós a recebemos comendo a carne do animal. Quão melhor não é obtê-la diretamente, comendo aquilo que Deus proveu para nosso uso! CBVc 131.6
    A carne nunca foi o melhor alimento; seu uso agora é, todavia, duplamente objetável, visto as doenças nos animais estarem crescendo com tanta rapidez. Os que comem alimentos cárneos mal sabem o que estão ingerindo. Freqüentemente, se pudessem ver os animais ainda vivos, e saber que espécie de carne estão comendo, iriam repelir enojados. O povo come continuamente carne cheia de micróbios de tuberculose e câncer. Assim são comunicadas essas e outras doenças. CBVc 132.1
    Pululam parasitas nos tecidos do porco. Deste disse Deus: “Imundo vos será; não comereis da carne destes e não tocareis no seu cadáver”. Deuteronômio 14:8. Essa ordem foi dada porque a carne do porco é imprópria para alimentação. Os porcos são limpadores públicos, e é esse o único emprego que lhes foi destinado. Nunca, sob nenhuma circunstância, devia sua carne ser ingerida por criaturas humanas. É impossível que a carne de qualquer criatura viva seja saudável, quando a imundícia é o seu elemento natural, e quando se alimenta de tudo quanto é detestável. CBVc 132.2
    Muitas vezes são levados ao mercado e vendidos para alimento animais que se acham tão doentes que os donos receiam conservá-los por mais tempo. E alguns dos processos de engorda para venda produzem enfermidade. Excluídos da luz e do ar puro, respirando a atmosfera de imundos estábulos, engordando talvez com alimentos deteriorados, todo o organismo se acha contaminado com matéria imunda. CBVc 132.3
    Os animais são muitas vezes transportados a longas distâncias e sujeitos a grandes sofrimentos para chegar ao mercado. Tirados dos verdes pastos e viajando por fatigantes quilômetros sobre cálidos e poentos caminhos, ou aglomerados em carros sujos, febris e exaustos, muitas vezes privados por muitas horas de alimento e água, as pobres criaturas são conduzidas para a morte a fim de que seres humanos se banqueteiem com seu cadáver. CBVc 132.4
    Em muitos lugares os peixes ficam tão contaminados com a sujeira de que se nutrem que se tornam causa de doenças. Isso se verifica especialmente onde o peixe está em contato com os esgotos de grandes cidades. Peixes que se alimentam dessas matérias podem passar a grandes distâncias, sendo apanhados em lugares em que as águas são puras e boas. De modo que, ao serem usados como alimento, ocasionam doença e morte naqueles que nada suspeitam do perigo. CBVc 132.5
    Os efeitos do regime cárneo podem não ser imediatamente experimentados; isto, porém, não é nenhuma prova de que não seja nocivo. A poucas pessoas se pode fazer ver que é a carne que ingerem o que lhes tem envenenado o sangue e ocasionado os sofrimentos. Muitos morrem de doenças inteiramente devidas ao uso da carne, ao passo que a verdadeira causa não é suspeitada nem por eles nem pelos outros. CBVc 132.6
    Os males morais do regime cárneo não são menos assinalados do que os físicos. A comida de carne é prejudicial à saúde, e seja o que for que afete ao corpo tem seu efeito correspondente na mente e na alma. Pensai na crueldade que o regime cárneo envolve para com os animais, e seus efeitos sobre os que a infligem e nos que a observam. Como isso destrói a ternura com que devemos considerar as criaturas de Deus! CBVc 133.1
    A inteligência apresentada por muitos mudos animais chega tão perto da inteligência humana que é um mistério. Os animais vêem e ouvem, amam, temem e sofrem. Eles se servem de seus órgãos muito mais fielmente do que muitos seres humanos dos seus. Manifestam simpatia e ternura para com seus companheiros de sofrimento. Muitos animais mostram pelos que deles cuidam uma afeição muito superior à que é manifestada por alguns membros da raça humana. Criam para com o homem apegos que se não rompem senão à custa de grandes sofrimentos de sua parte. CBVc 133.2
    Que homem, dotado de um coração humano, havendo já cuidado de animais domésticos, poderia fitá-los nos olhos tão cheios de confiança e afeição, e entregá-los voluntariamente à faca do açougueiro? Como lhes poderia devorar a carne como um delicioso bocado? CBVc 133.3
    É um erro supor que a força muscular depende do uso de alimento animal. As necessidades do organismo podem ser melhor supridas, e mais vigorosa saúde se pode desfrutar, deixando de usá-lo. Os cereais, com frutas, nozes e verduras contêm todas as propriedades nutritivas necessárias a formar um bom sangue. Esses elementos não são tão bem, ou tão plenamente supridos pelo regime cárneo. Houvesse o uso da carne sido essencial à saúde e à força, e o alimento animal haveria sido incluído no regime do homem desde o princípio. CBVc 133.4
    Quando se deixa o uso da carne, há muitas vezes uma sensação de fraqueza, uma falta de vigor. Muitos alegam isso como prova de que a carne é essencial; mas é devido a ser o alimento desta espécie estimulante, a deixar o sangue febril e os nervos estimulados, que assim se lhes sente a falta. Alguns acham tão difícil deixar de comer carne como é ao bêbado o abandonar a bebida; mas se sentirão muito melhor com a mudança. CBVc 133.5
    Quando se abandona a carne, deve-se substituí-la com uma variedade de cereais, nozes, verduras e frutas, os quais serão a um tempo nutritivos e apetitosos. Isso se necessita especialmente no caso de pessoas fracas, ou carregadas de contínuo labor. Em alguns países em que é comum a pobreza, é a carne o alimento mais barato. Sob estas circunstâncias, a mudança se efetuará sob maiores dificuldades; pode no entanto ser operada. Devemos, porém, considerar a situação do povo e o poder de um hábito de toda a vida, sendo cautelosos em não insistir indevidamente, mesmo quanto a idéias justas. Ninguém deve ser solicitado a fazer abruptamente a mudança. O lugar da carne deve ser preenchido com alimento são e pouco dispendioso. A esse respeito, muito depende da cozinheira. Com cuidado e habilidade se podem preparar pratos que sejam ao mesmo tempo nutritivos e saborosos, substituindo, em grande parte, o alimento cárneo. CBVc 133.6
    Em todos os casos, educai a consciência, aliciai a vontade, supri alimento bom, saudável, e a mudança se efetuará rapidamente, desaparecendo em breve a necessidade de carne. CBVc 134.1
    Não é o tempo de todos dispensarem a carne da alimentação? Como podem aqueles que estão buscando tornar-se puros, refinados e santos a fim de poderem fruir a companhia dos anjos celestes continuar a usar como alimento qualquer coisa que exerça tão nocivo efeito na alma e no corpo? Como podem tirar a vida às criaturas de Deus a fim de consumirem a carne como uma iguaria? Volvam antes à saudável e deliciosa alimentação dada ao homem no princípio, e a praticarem e ensinarem a seus filhos a misericórdia para com as mudas criaturas que Deus fez e colocou sob nosso domínio. CBVc 134.2

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