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Uma vaca explorada já não consegue se levantar

O que chamam de “sobra de leite” escorre, misturando-se às fezes

Uma vaca já não consegue se levantar enquanto o que chamam de “sobra de leite” escorre, misturando-se às fezes.

Forma um caminho entre as fezes, sinuoso. A vaca é uma máquina? Estática, dolorida, com as tetas apontando para a câmera.

Uma pata fica entre o encostar ou não nas fezes, como num titubear de estar lá sem querer estar.

O leite desce pelo que não é desejo da vaca, um leite que deve escorrer até não poder.

Se desse sem que quisesse, não desejariam que a vaca fosse ordenhada sem parar?

A vaca olha por baixo, desconfiada, assustada, cansada. O corpo revela o não controle da vaca.

Um corpo que dela não pode ser. E quando não tiver algo a oferecer sem querer, não terá algo mais tirado sem querer?

E o olhar já não estará em lugar nenhum, nem os úberes escorrendo leite nem a pata vacilante.

A posição desaparecerá, assim como o corpo vivo. Em seu lugar, outra vaca. Repetição e exaustão – leite pra tirar e depois um corpo pra despedaçar.

Leia também “Quando a vaca não tinha mais leite a enviaram para o matadouro“, “Em ‘Furiosa: Uma Saga Mad Max’, mulheres vivem violência semelhante à sofrida por vacas leiteiras“, “Quando a vaca deixou de gerar leite decidiu matá-la” e “Vacas e bezerros também sofrem em propriedades familiares“.

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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