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Não faz sentido dizer que o veganismo de alguém é apolítico

Uma reflexão sobre a apropriação do sentido do político no veganismo

Acervo: Elige Veganismo

O sentido do veganismo é opor-se à opressão contra os animais, logo se uma pessoa é vegana, o que significa contestar essa arbitrariedade, não faz sentido dizer que o veganismo dela é apolítico.

Na verdade, não existe veganismo apolítico. O que pode existir são diferentes interpretações sobre o que é político e considerado por uns e não por outros. Além disso, o político precede os espectros políticos e o partidarismo, e, desde Aristóteles (apesar de suas contradições), com a definição de que a justiça é o bem político.

E se contestar a exploração animal é sobre uma busca por justiça baseada na consideração de interesses não humanos, como rejeitar a validade política dessa intenção? Só faria sentido acusar alguém de veganismo apolítico se houvesse uma contradição nesse sentido.

Mas tendo essa contradição, não faria sentido chamar de veganismo ou associá-lo com a ideia de apolítico se considerado o sentido do veganismo. Veganismo apolítico é um termo conflitante e antagônico, porque sequer faz sentido como definição, a não ser pelo viés de uma dúbia apropriação.

Qualquer pessoa que rejeita o especismo por meio do veganismo está assumindo uma postura política antiopressão, independentemente se você concorda com ela ou não em relação a inúmeras outras questões. Rejeitar o domínio sobre os animais é expressão política.

Se o veganismo reivindica o respeito aos animais por meio de uma consideração em que interesses humanos não se sobreponham de forma evitável ou desnecessária aos de outras espécies, é claro que há nisso uma motivação política, mesmo quando não pensada como política.

A crença de que o que fazemos em relação a nós, mas não em relação aos outros animais, não é político, ignorando também que o político também não é estritamente humano, como tem sido apontado também por meio do campo dos Estudos Animais, é uma das heranças culturalizadas pelo antropocentrismo.

Gary Francione publicou uma vez que os direitos baseados no respeito são o que define um sistema político e identifica quais as crenças mais importantes em uma determinada cultura, o que serve também para referenciar a conclusão de que a questão vegana é uma questão política.

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

2 respostas

  1. Nem precisava, mas tentando complementar sua reflexão: o caráter “apolítico” que as pessoas têm do veganismo talvez seja oriundo dessa confusão que fazem com dieta, e por dieta elas entendem apenas café da manhã, almoço e janta.

    Agora, uma reflexão deveras importante e que sempre gera debates e controvérsias é a relação, às vezes nem tão amistosa, entre a pauta politica do direitos dos animais e alguns movimentos feministas, antifascistas, antirracistas, LGBT etc.

    Quando os interesses humanos dessas pautas se deparam com questões que dizem respeito aos outros animais, me parece que as outras espécies serão sempre colocadas em segundo plano, na medida em que não atenderem ou atrapalharem os direitos e dívidas reivindicados por aquelas pautas.

    Ora, o movimento pelo qual buscamos justiça e compaixão não diz respeito ao nosso gênero, à nossa cor/etnia, à nossa orientação sexual; sequer diz respeito à nossa própria espécie. E quando isso entra em conflito com algum desses fatores, os animais, como sempre, é que perdem.

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