Categorias: Opinião

Não existe uma abordagem perfeita contra a exploração animal

Foto: We Animals

Sempre preferi tentar motivar mais as pessoas a não consumirem produtos de origem animal chamando atenção para o que isso custa para os animais. Há pessoas que preferem não fazer isso, mesmo quando são veganas, e optam por motivar uma mudança de outra forma.

Há pessoas que são criticadas por não usarem a abordagem ética. Podem ser julgadas como superficiais ou como se não estivessem dando atenção ao que realmente importa em relação às implicações do consumo de produtos animais.

O problema é que isso pode não ser verdade. Uma pessoa pode ter uma motivação ética e mesmo assim não adotar a abordagem ética. Não é difícil encontrar pessoas sendo julgadas por não estarem dentro do ideal da abordagem de alguém.

Mas não existe uma abordagem que funcionará com todo mundo, por isso a diversidade é importante e representa também uma atenção às diferenças entre os sujeitos. O que pode parecer superficial para alguém, mas que leva pessoas a mudanças de consumo, na contramão do uso de animais, pode realmente ser considerado superficial?

Há documentários feitos por veganos que não falam sobre veganismo, mas nem por isso deixam de propor uma mudança de consumo relevante ao veganismo, apelando ao que eles julgam que podem aproximar mais as pessoas de um interesse por uma mudança benéfica aos animais.

Isso ocorre também porque a intenção é fazer o espectador crer que estão descobrindo algo juntos, mesmo quando o autor do documentário já faz parte dessa mudança há anos – porque assim há o estabelecimento de uma relação de cumplicidade, em que se cria uma ligação com o espectador, uma horizontalidade.

Não existe a abordagem perfeita ou a abordagem completa que mudará a mente de todos em relação ao que pode beneficiar os animais, não importando o quanto alguém diga que está do lado certo, que sua abordagem é realmente a correta e a do outro é errada, já que essa disputa por sentido e adesão também é comum.

Determinadas motivações funcionarão para uns e não para outros, sejam apreciadas ou depreciadas. Acredito que o mais importante é ser verdadeiro em relação ao que é feito.

Leia também “Veganos pensam que são melhores que os outros?” e “Veganos também matam animais?

David Arioch Barcelos

Jornalista (MTB: 10612/PR), mestre em Estudos Culturais (UFMS) com pesquisa com foco em veganismo e fundador da Vegazeta.

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  • Eu fiquei travada por muitos anos devido a esse questionamento, no fim, cheguei a conclusão que se trata de uma conquista que pode ser aprofundada.
    Seria legal se fosse sempre por motivações éticas? Seria. Mas nós sabemos que isso motiva poucas pessoas por causa que a cultura humana atual não é baseada na ética, o que é bem triste.
    Mas preferi aceitar esse fato, e causar a mudança, aproximar a pessoa para o veganismo através de motivo de saúde ou políticos, etc. Com o tempo a pessoa, se estimulada, vai se aprofundando no veganismo até chegar no forte motivo ético e isso vai criar raízes éticas.
    Quem ganha são os animais explorados, com cada vez menos demanda por eles nas prateleiras.
    Esse puritanismo de motivações muitas vezes é utópico e não ajuda. O importante é se tornar vegano ou o mais próximo disso!

    • Ah, esqueci de dizer também por motivos de maus tratos a animais sejam domésticos ou não, enfim, vários motivos para aproximar as pessoas para o veganismo.

  • NENHUMA CARNE COM SEU SANGUE COMEREIS , NEM TU, NEM TUA CASA , POR TODAS AS VOSSAS GERAÇÕES, E TODAS AS VOSSAS HABITACOES, QUEM ASSIM O FIZER SERA EXTIRPADO DENTRE O MEU POVO...DEUTERONOMIO...QUEM ASSASSINA UM ANIMAL E COMO QUEM ASSASSINA UM HOMEM , ESSES ESCOLHERAM SEUS CAMINHOS E EU DEUS ESCOLHEREI AS SUAS AFLIÇÕES! ISAIAS.....QUE MAIS MOTIVOS PRECI SAMOS PARA RESPEITAR A VIDA DOS ANIMAIS...ALEM DO NOSSO AMOR POR ELES! E ORDEM DOS CEUS!

  • Embora existam diversas abordagens para combater a exploração animal, acredito que a mais eficaz seja a que coloca em foco o sofrimento dos animais. Argumentar sobre sustentabilidade e saúde humana pode ser atraente, mas, essas abordagens podem ser contraproducentes a longo prazo.

    Acho que é preciso sempre mostrar a questão do sofrimento dos animais, mesmo que isso não convença as pessoas, isso porque, a promoção da consideração moral dos animais porque não reforça valores que podem pior para os animais a longo prazo.

    Para pensarmos nisso vale a pena fazer uma analogia com a exploração humana: devemos tentar convencer as pessoas a pararem de prejudicar umas as outras porque isso é melhor para o meio ambiente ou porque isso vai beneficiar quem está explorando?

    Reforçar argumentos indiretos ou valores não-centrados nas vítimas não ataca o problema. Essas abordagens com argumentos indiretos têm um pequeno impacto positivo agora, mas pode ter um impacto muito negativo no futuro, então acaba por ser perigoso usar essas estratégias.

    Precisamos continuar pesquisando quais são as melhores estratégias em cenários amplos, quais são melhores para ajudar os animais. Recomendo alguns textos interessantes sobre a questão que você levantou:
    • Discutindo o uso de argumentos antropocêntricos e ambientalistas no ativismo de defesa animal - senciencia.org
    • O desvio de foco em debates: por que o especismo é raramente discutido? - senciencia.org
    • Summary of Evidence for Foundational Questions in Effective Animal Advocacy - sentienceinstitute.org

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