Veganos também matam animais?

É fácil estabelecer uma diferença que invalida o uso do argumento “veganos também matam animais”

Foto: Kelly Guerin

Não é difícil encontrar alguém contrário ao veganismo afirmando que “veganos também matam animais”. Não é uma inverdade, mas é uma afirmação capciosa. Quem diz isso visa estabelecer uma ideia de equivalência entre veganos e não veganos na morte de animais, mas desconsiderando totalmente os fatores de proporcionalidade e intencionalidade.

Nenhum ser humano está livre de matar ou de participar indiretamente da morte de animais, se partimos da consideração de que ao estarmos no planeta já estamos impactando em outras vidas.

Apesar disso, é fácil estabelecer uma diferença que invalida o uso do argumento “veganos também matam animais”, como se isso fosse motivo para a decisão de não viver em oposição à exploração e morte de animais.

Esse tipo de raciocínio se propõe a endossar o prejuízo aos animais, porque é baseado em uma afirmação em que quem a articula não se importa com os animais, mas tem interesse em culpabilizar aqueles que se importam, como se o empenho em diminuir os níveis de empatia de alguém fosse algo a ser dignamente objetivado.

Afinal, uma pessoa que assume a responsabilidade de não causar mal aos animais se posiciona da mesma forma que aqueles que ignoram completamente esse interesse dos outros animais?

Se no primeiro exemplo você tem pessoas que se recusam a participar de um sistema em que animais são criados, aprisionados, explorados e mortos para os mais diversos fins, no segundo você tem pessoas que não veem problema nisso. É coerente afirmar que não há diferença?

A afirmação de que “veganos também matam animais” é feita para levar a uma ideia distorcida de paridade mediante uma incontestável desigualdade, o que é incomparável porque de um lado há uma intenção em não causar mal e do outro uma tentativa de justificar males facilmente evitáveis.

Como seria melhor usar uma afirmação em que, ao tomar várias decisões diárias em que contribuo para a morte de animais, expresso que não faço nada e ainda olho para o outro como se ele estivesse errado em viver em oposição a tanta violência e morte?

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Uma resposta

  1. O ponto mais delicado ou controverso no debate “veganos matam animais?” está em relação aos veganos que têm cães e (principalmente) gatos como companheiros domésticos, “pets”.
    E digo isso apenas em decorrência da compra de ração, seja a mais barata, seja o sachê com carne dentro. É curioso como muitos veganos não se dão conta desse impasse.
    Ora, temos compaixão pelo sofrimento de porcos, frangos, bovinos, cordeiros, perus, peixes e demais espécies; mas nesse caso nos vemos em, ao acolher e adotar e cuidar de uns, financiar indiretamente a morte de outros.
    Até o momento, esse é o único ponto em que um não-vegano pode ter um argumento medianamente razoável para criticar veganos no seu discurso.
    Claro, já existem as rações veganas para pets. Mas no caso da realidade do povo pobre, assalariado, ainda mais aqui no Brasil, que às vezes tira do próprio prato pra dar ao animal doméstico faminto, falar em ração vegana pet caríssima chega a ser até constrangedor.
    O único autor que vi discorrer brevemente sobre isso foi Desmond Morris, no livro “O contrato animal”.
    É um assunto complexo, que muita gente prefere evitar, justamente pra não se sentir culpada ou incoerente.
    A única maneira praticável que vislumbro de a pessoa não se achar nesse impasse é simples: não tenha cães e gatos em casa. Se não quiser matá-los de fome, você necessariamente vai ter que desembolsar uma parte do seu dinheiro para financiar a indústria da carne.
    A Luisa Mell já passou por isso, o Moby já passou por isso, o pessoal do Rancho dos Gnomos e de outros santuários passam por isso, já que têm grandes carnívoros nos recintos, como ursos e onças e leões etc. E eles são alimentados com carnes cruas, em grande pedaços.

    É um dilema e tanto.

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