Categorias: Opinião

Não veganos também podem favorecer o veganismo

Ilustração: Tommy Kane

Mesmo pessoas que não têm interesse no veganismo nem no vegetarianismo podem ser incentivadas a novos hábitos. Quando somos veganos acreditamos naturalmente que a mudança plausível é uma transição para o veganismo.

Claro que isso seria o ideal, mas não vejo motivo para não estimular quem não quer abdicar do consumo baseado em animais a consumir alimentos e outros produtos veganos ou de origem vegetal.

Mesmo quando uma pessoa não quer reduzir o seu consumo de produtos animais, isso não quer dizer que estimulá-la a experimentar outros alimentos e outros produtos não possa levar a um interesse e uma mudança.

Mesmo que não leve, que essa pessoa continue consumindo todos os produtos de origem animal que consome hoje, podemos considerar também que quando consumidores regulares de produtos de origem animal compram também produtos veganos, eles também estão favorecendo a oferta desses produtos e atraindo mais visibilidade para esses produtos, mesmo quando não são sequer entusiastas do veganismo.

Isso também pode gerar um efeito multiplicador, porque pode estimular outro tipo de produção, pode ajudar a reduzir a distância entre o consumo de produtos veganos e não veganos, e pode incentivar quem desenvolve e oferece esses produtos.

Quando nos focamos no que consideramos ideal, podemos perder de vista que outras mudanças também podem ocorrer mesmo quando envolvem pessoas que não querem deixar de se alimentar de animais.

Não contar com uma transição para o veganismo não deveria ser visto como um motivo para não aproximar as pessoas de um outro interesse de consumo, porque se algo parecer atrativo para alguém, por que essa pessoa veria isso de forma negativa? Se isso é apresentado também como uma consideração de alguém em relação a outrem.

Se veganos são minoria, mas é possível estimular outros consumos envolvendo pessoas que fazem parte da maioria, e de quem o veganismo depende para ter um impacto mais significativo, isso também é relevante, bastando levar em consideração os critérios que são importantes para as pessoas em suas relações de consumo.

David Arioch S.A. Barcelos

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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