Categorias: Opinião

Acreditar que o veganismo é impraticável não significa que seja

Foto: Aitor Garmendia

Eu acreditar que o veganismo é impraticável para mim, não significa que seja, e sim que refugiei-me nessa crença de impossibilidade.

As pessoas podem enumerar motivos para não serem veganas, ainda que digam que “gostariam de ser”, mas é partindo dessa ideia de impraticabilidade que se afastam de tornarem o veganismo uma realidade em suas vidas.

Se não faço o suficiente do que poderia para ser vegano, ainda que eu fale em “gostaria”, como posso dizer que ser vegano é impraticável para mim? A não ser que nos empenhemos com seriedade e comprometimento, o que fazemos não pode ser considerado “o bastante”.

Se realmente é o que uma pessoa quer, não há nada a impedindo, a não ser ela mesma. Claro, podemos falar em “gostaríamos” sobre muitas coisas com efeito de escusa, o que é comum quando há uma vontade ensaiada, que não se ampara em um real interesse de concretização.

Ser vegano também é sobre assimilar o veganismo para que possamos aproximá-lo de nossa realidade. Uma pessoa para ser vegana não precisa ser como outra. Basta viver com seriedade a contestação da exploração animal. Ademais, pode-se viver o veganismo de acordo com a sua realidade, considerando suas particularidades.

“Gostaria” é um termo que usamos em situação antinômica – quando não queremos que nos incomodem em nossa zona de conforto, mas ao mesmo tempo manifestamos algum interesse em sair dela; embora seja tão fácil continuar nela que talvez optemos por dar um pequeno passo que julgamos mais conveniente à nossa consciência, e então estacionamos, o que é pouco resolutivo para a mudança que reconhecemos como desejável.

Quando penso na história de pessoas precedentes à era comum que já antagonizavam a exploração animal, recusando-se a contribuir com a violência contra não humanos por meio do consumo, considero os argumentos de nosso tempo menos justificáveis quando alegada uma “vontade em ser vegano”, mas em seguida destaca-se isso como “impossibilidade”.

Podemos sempre colocar obstáculos para qualquer mudança, mas são realmente justificáveis? Se não tomamos uma iniciativa, que transformação surgirá?

David Arioch S.A. Barcelos

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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