Quando animais criados para consumo são agredidos é comum até quem consome animais reprovar essas agressões. Então as críticas são direcionadas ao agressor, e como se a agressão fosse realidade somente naquele momento.
Mas criar um animal para consumo não é uma agressão? O fato de ser reconhecido como um “animal de consumo” não influencia as agressões que recebe? Isso não o coloca em desvantagem em relação às práticas de violência?
Ele vive a realidade da inferiorização que culmina em exploração, determinando que está ali temporariamente até ser considerado em condição de ser consumido ou descartado.
Apertar o pescoço, estapear, chutar ou esmurrar é reprovável, mas não as agressões institucionalizadas? Mutilar um animal, marcá-lo e dar choque para obrigá-lo a se deslocar de um local para outro não são agressões? E atirar contra sua cabeça?
Degolá-lo não é uma agressão? E arrastá-lo contra a sua vontade para ser morto? Quantas agressões vivem os animais a cada dia sem que sejam reconhecidas como agressões?
Quando vejo uma imagem de animal criado para consumo recebendo algum golpe que ganha repercussão pela crença de que “isso é inaceitável”, reflito sobre as agressões que são consideradas aceitáveis e como essa relativização não ajuda a transformar suas vidas.
Animais continuarão sendo vítimas dessas “reconhecidas agressões” enquanto as não reconhecidas forem perpetuadas, porque isso também é sobre como os animais são vistos, coisificados e produtificados.
A desvantagem desses animais em relação à falta de consideração humana por suas vidas favorece uma ideia de vantagem em agredi-los e também de impunidade em relação às agressões não institucionalizadas.
Se mudássemos nossa relação com os animais, transformando nossa própria realidade de consumo, não contribuiríamos mais do que somente externando indignação em relação às “reconhecidas agressões”?
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