Devermos combater algumas violências contra animais, mas não outras? É justo criticarmos diversos tipos de práticas que consideramos cruéis envolvendo animais, mas não vermos problemas em relação a outras?
Algumas práticas, por exemplo, que atraem maior oposição ou apelo popular contra suas realizações sustentam-se no fato de que há um grande número de pessoas que as reprovam, logo não posso dizer que também não é conveniente rejeitar o que é mais facilmente rejeitado por uma maioria.
Ou não a maioria, mas em um contexto em que encontramos mais fácil endosso de uma maioria, e porque é mais fácil reprovarmos aquilo que não praticamos ou de nós não exige nenhum esforço para sua condenação.
Mas por que então não olhamos para os nossos costumes e nos esforçamos para expandir nossa percepção sobre o que depende da geração de um mal aos outros animais?
O que ainda fazemos que está na contramão do que, fora de nossas limitações supremacistas, depende de submeter animais aos nossos interesses?
Qualquer pessoa pode ponderar a respeito de várias questões associadas ao exercício de domínio sobre os animais e refletir sobre a suposta ideia de imprescindibilidade que o norteia.
Vivendo em uma sociedade onde nossa realidade pode ser definida como um processo civilizatório inacabado, porque nunca é finito, não é difícil reconhecer que podemos sempre aperfeiçoar nossa oposição em relação ao mal que favorecemos não somente contra aqueles que são humanos.
Claro, podemos ignorar isso e apenas viver como já vivemos, mas então em qual nível estaria a seriedade de nossa oposição quando dizemos que somos contra a crueldade animal?
Crueldade contra animais é algo que nunca é tão pequeno quanto tendemos a julgar que seja, a não ser quando minoramos o significado de “crueldade”.
O “ser contra a crueldade animal” é uma das colocações mais usadas de maneira trivializada e reducionista em nosso tempo, onde temos mais condições de reconhecer as consequências de nossas relações com outros animais, e sobre isso precisamos pensar nem tanto no que fazemos, mas no que não fazemos.
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