O que representa a imagem de uma vaca leiteira em situação de baixa produtividade e desenvolvimento de enfermidades sendo removida para descarte por uma pá carregadeira?
Além de evidenciar exaustão, já que o animal é removido por uma máquina pelas limitações de sua capacidade de locomoção, esse é mais um exemplo de como um indivíduo não humano usado como provedor por imposição não tem expectativa de vida, mas validade determinada por sua “capacidade de utilidade”.
Essa capacidade é induzida. Não existe da maneira como existe pela predisposição não humana, e sim pela determinação imperativa humana, que nunca deixa de ser arbitrária, já que é sobre controle da domesticidade para geração de lucro.
E será a intensidade de sua instrumentalização e a maneira como esse animal lidará com essa realidade que determinará quando será o seu fim? Que surge por sua rejeição como fonte produtiva e destinação a um espaço que marca a transição do “gerar” para o ser “eliminado”.
Mas quando essa criatura não é eliminada? Se a vida dela não é sobre ela, e sim sobre as imposições do “prover para então morrer”; e sobre condicionamento perpétuo, que nunca termina, porque tem continuidade com outras vítimas desse sistema.
Posso observar uma vaca leiteira na dura e desconfortável pá de uma máquina, com os pés em posições distintas, com a cabeça caída e as tetas estriadas e avermelhadas, e não me preocupar em enumerar o quanto isso é usual ou não, e sim em questionar mais uma vez que se é uma prática institucionalizada, o que culmina nessa realidade?
O que permite que um animal chegue a esse estado de degradação, extenuação, debilidade, fragilidade? Então penso nas diversidades de produtos que amparam a velocidade do reducionismo de vidas que não são as nossas.
Normalizamos violências sobre as quais nos abstemos de responsabilidade e não posso ignorar que são sempre violências impercebidas como violências.
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