Não são poucos os filmes de terror em que humanos são submetidos a violências e sofrimentos que evocam a realidade ordinária de tantos animais. Ou seja, a apreensão e o choque surgem porque são humanos assistindo o que não desejam em realidade para outros humanos.
Isso vem do imaginar-se no lugar do outro com quem compartilha a mesma espécie. Logo considera digno de empatia, uma vítima de ação cruel e desnecessária que é conhecida pelo espectador ao longo da história. Então torce para que tal vítima humana livre-se dessa situação.
Claro que nem todos podem pensar assim em relação a um filme, o que ocorre pela ideia de ser um filme, uma consideração por irrealidade – já que o apelo ficcional permite uma concepção diferenciada, sem compromisso com a realidade.
Mas a própria situação desses personagens se pensada sob a definição de filme de “terror”, principalmente quando são olhadas pelo espectador como “vítimas inocentes”, já surge pelo reconhecimento de um lugar de imposição e violência.
Evoca-se uma consideração em que o “aterrorizante” está no que não seria aceitável como realidade. Filmes do tipo slasher, por exemplo, exploram bastante o que pode ser percebido como “mimetização da violência humana contra outros animais”.
A perseguição, a imposição de sofrimento e morte baseia-se na ausência de consideração em relação à vítima – os interesses para quem destina-se a matar são interesses que não serão preteridos pelos interesses da vítima. O terror então está na negação do outro, sendo o outro apenas um fim nessa arbitrária e inesgotável vontade, como é comum ao slasher.
Ademais, se o terror que envolve humanos em filmes é uma mimetização do que vivem diariamente tantos animais subjugados para fins alimentícios, e mesmo quando não é, não deixa de permitir tal associação, isso não significa que negamos o terror vivido pelos animais e porque privamos do reconhecimento dessa realidade tão ordinária e cotidiana como terror?
Quem, passando pelo que passam os animais, negaria tal experiência, mesmo que por imaginação, como terror? A institucionalização e normalização do terror anulam o terror?
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