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Oportunismo e ameaças visam impedir aprovação de projeto que proíbe a exportação de animais

Navios que exportam “esse tipo de carga” contam inclusive com moedores para descarte dos animais que não resistem à viagem (Foto: Reprodução)

Desde terça-feira da semana passada, ativistas dos direitos animais participam incansavelmente das sessões ordinárias da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). O objetivo é bem simples – dar apoio e destacar a importância do projeto de lei 31/2018, de autoria do deputado estadual Feliciano Filho (PRP), que prevê a proibição da exportação de animais vivos no estado de São Paulo.

Não é nenhuma novidade que todos esses ativistas têm deixado outros importantes compromissos de lado para lutarem por animais de outras espécies que não são capazes de fazerem valer os seus anseios de não sofrerem mais do que já sofrem com a má intervenção humana. Tal atitude deveria ser interpretada pela população como uma luta por justiça, e claro, deveria receber o apoio massivo da população e dos políticos – o que na prática não ocorre na melhor proporção.

Desde o ano passado, a maioria dos políticos de São Paulo, assim como o Governo Federal, têm se omitido em relação à situação dos animais enviados para fora do país – mesmo diante de provas de negligência, maus-tratos e óbitos. Navios que exportam “esse tipo de carga” contam inclusive com moedores para descarte dos animais que não resistem à viagem. Uma rápida pesquisa no Google prova o que estou afirmando. Procure pelo caso Minerva Foods.

No Brasil, “os animais do tipo exportação” são enviados para o Oriente Médio, onde são mortos sob os preceitos do abate halal – um golpe em meia lua que consiste em cortar os três principais vasos – jugular, traqueia e esôfago. Ou seja, o animal é morto sem insensibilização, o que é considerado inadmissível na crença bem-estarista supostamente vigente no Brasil. Sem citar ainda a poluição das águas em decorrência do descarte de resíduos de origem animal provocado pela exportação de animais.

Atualmente, com exceção do governador Márcio França, e de alguns deputados que já declararam apoio ao fim das exportações – como a deputada Beth Sahão (PT) e o deputado Carlos Gianazzi (PSOL), tudo indica que há uma forte resistência na Assembleia Legislativa – encampada por políticos como Itamar Borges (MDB), Roberto Morais (PPS), Davi Zaia (PPS), Marcos Vinholi (PSDB), Barros Munhoz (PSDB), Gilmar Gimenes (PSDB), Carlão Pignatari (PSDB), Welson Gasparini (PSDB) e Adilson Rossi (PSB) – que valendo-se de discursos e justificativas fragilizadas, ignorando a realidade dos animais exportados, declararam incondicional apoio à indústria agropecuária, deixando subentendido que o lucro deve estar sempre acima do valor da vida.

Por enquanto, a situação na Alesp ainda é de indefinição. Quem está acompanhando tudo de perto entende que há uma tentativa de vencer os ativistas “pelo cansaço”. Um fato que também deveria ser considerado pelos deputados da Alesp, que foram eleitos para representar em primeiro lugar os interesses da população, não da indústria agropecuária, é que segundo os ativistas, a maioria das pessoas que fazem oposição ao projeto de lei tem comparecido à Alesp apenas porque está recebendo para isso – ou “porque o patrão mandou”. Muitos confirmaram que desconhecem o teor do projeto. O que se enquadra no que se chama no linguajar popular de “massa de manobra”.

Outro ponto crítico são as ameaças recebidas desde que o projeto entrou em discussão. Ontem a ativista Luisa Mell compartilhou uma publicação em que uma mulher chamada Ana Paula Sales Cunha faz uma ameaça: “O mundo agro está todo contra você, se prepare..” A Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA) também informou que tem havido inúmeras tentativas de tirar o site do ar. Inclusive a fundadora da ANDA, Silvana Andrade, tem recebido ameaças à sua integridade física, assim como outros ativistas que estão participando diretamente das manifestações em apoio à aprovação do Projeto de Lei 31/2018.

 

David Arioch S.A. Barcelos

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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