Um menino olhou para um animal e perguntou-lhe: “O que acha de ser comido?” Depois mostrou-lhe um pedaço de carne como a sua. Não reagiu. “Aqui já não tem vida.”
Olhou para o menino, mas não moveu o corpo. “Por que acham que você precisaria dizer algo para não ser comido? Porque parece que apenas se você falasse como nós é que poderia não ser comido. Mas tantos outros não falam e ninguém fala em comer. É azar ser escolhido para ser comido?”
Percebeu que azar não era a palavra adequada e pensou que não existisse uma palavra que pudesse resumir a prática de “ser escolhido”, porque ainda faltaria algo. Concluiu que seria preciso combinar várias palavras sem descartar nenhuma.
“Tudo que dirão que é será que é? E tudo que dirão que não é será que não é?” Ele já não olhava para o menino. Deitou-se num pedaço de capim arrancado, sem se incomodar com os sons de dúvidas sobre seu fim.
O menino achou sua tranquilidade uma manifestação de alheamento, mas que poderia ser arrancada dele a qualquer momento. E seria.
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