Opinião

Milhões de perus são mortos para a celebração do Natal

No matadouro, o abate é feito introduzindo uma faca de dois gumes pela garganta do animal (Fotos: Reprodução/Pixabay)

No Brasil, mais de oito milhões de perus são mortos para a celebração do Natal, segundo dados da BRF. São muitas vidas ceifadas para saciar o “paladar natalino”. Geralmente a ave, que poderia viver por dez anos, é morta com pouco mais de dois meses, e peso que varia de três a seis quilos, considerado o ideal para o Natal.

As fêmeas são as preferidas porque não crescem tanto quanto os machos, assim tendo maior aceitação comercial nesta época do ano. Quando atingem o peso almejado pela indústria, os perus são deixados em jejum para favorecer o esvaziamento gástrico. Depois são transportados até o matadouro em gaiolas apertadas sobre caminhões.

Ou seja, tudo em prol da carne, e nada em benefício do animal, mesmo que ele esteja próximo de seu fim. Chamam isso de “bem-estar animal”, desde que a ave tenha vivido por curto período em algum espaço que a permitisse mover, mesmo que desconfortavelmente, as asas e os pés. Além disso, o estresse do confinamento tende a ser desconsiderado.

Realidade no matadouro

No matadouro o abate é feito introduzindo uma faca de dois gumes pela garganta do animal, assim cortando as artérias e as veias do pescoço enquanto debate-se de cabeça para baixo, com os pés presos à nória de condução. Mais tarde, o peru é depenado em água bem quente, limpo, embalado e comercializado como qualquer produto jamais dotado de vida. Em pouco tempo, ele é comprado e servido no dia em que é celebrado o nascimento do menino Jesus.

Ao redor da mesa, as pessoas não verão nada de errado em alimentar-se dessas criaturas. Dificilmente alguém vai dedicar tempo refletindo sobre a vida de quem é servido como alimento. Afinal, o que tem errado em colocar o paladar acima da empatia?

Celebrar a vida com a morte, financiar a crueldade contra outros animais, há muito tempo tornou-se parte da humanidade. Talvez possa parecer estranho, mas é isso que endossamos o ano todo. Claro, mais ainda em época de “espírito natalino”, um período sempre marcado pelo aumento substancial de mortes de animais não humanos com fins de consumo.

Gosta do trabalho da Vegazeta? Colabore realizando uma doação de qualquer valor clicando no botão abaixo: 

David Arioch S.A. Barcelos

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

Posts Recentes

Como a linguagem é usada contra muitos animais

É comum usarmos termos para distinguir-nos de outros animais, mas nessa distinção não há um…

12 horas ago

O corpo bovino na água foi visto como carne perdida

O corpo bovino na água foi visto como carne perdida, não uma morte a ser…

3 dias ago

Quando uma criança viu o sofrimento de um peixe

Uma criança viu pela primeira vez um peixe sendo tirado da água. Lutava com o…

4 dias ago

O animal não cabe dentro do interesse humano

Ver o interesse dos animais não significa querer ou fazer com que esse interesse prevaleça,…

5 dias ago

Se quem mata animais profissionalmente é cruel, devemos nos perguntar, é cruel em nome de quem?

Há muito tempo quem mata animais no matadouro é associado à crueldade. Encontramos exemplos em…

6 dias ago

A morte é uma libertação para o animal explorado?

Esta semana, quando um boi teve morte súbita a caminho de um matadouro no Paraná,…

1 semana ago