Opinião

Natal, época em que pessoas gostam de matar animais em casa

Como ter coragem de matar um animal que olhou nos seus olhos e soube que você foi o autor de sua morte? (Foto: Anita Krajnc/Toronto Pig Save)

Em época de “espírito natalino”, você encontra pessoas comprando animais para matar em casa. Sempre tem alguém que gosta de se gabar de matar um animal, como se fosse um ato ritual ou algo admirável.

Como ter coragem de matar um animal que olhou nos seus olhos e soube que você foi o autor de sua morte? E apenas para saciar um prazer efêmero que não ultrapassa a ceia ou o almoço do dia seguinte. Há pessoas que convivem com esses animais por dias antes de matá-los, e às vezes criam um vínculo ainda que curto com seus filhos ou outras crianças.

Pensando nisso, lembrei de uma experiência em uma horta. Na ocasião, o proprietário relatou que o seu vizinho foi abater um porco pela manhã e levou muito tempo para conseguir matá-lo. A vítima não queria ceder, mesmo após receber marretadas seguidas por golpes de faca.

O encontrei usando um maçarico para queimar os pelos do porco sobre uma velha mesa a céu aberto. O animal sem vida estava com os pés um pouco torcidos e a boca não pareceu em nenhum momento inspirar nenhuma última experiência que não fosse de terror.

Não há o reconhecimento de anseios não humanos

Vejo um nível de disfunção narcotizante neste caso. Não há o reconhecimento de que está diante de uma criatura com anseios semelhantes ao de um cão, embora, dependendo, porcos possam ser até mais inteligentes – também respondem a estímulos visuais e têm boa memória.

Mas, claro, não que o direito à vida deva ser pautado em inteligência. É apenas uma observação complementar, já que encontrei no mesmo local vários cães, e aparentemente bem tratados.

Reforço sempre que sou contra qualquer tipo de abate, que é cruel em sua própria inerência, mas não tenho dúvida de que esta época também é marcada pela intensificação da crueldade nas formas de abate.

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David Arioch S.A. Barcelos

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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