Opinião

Quantos animais já são vítimas do Carnaval neste ano?

Há opções mais baratas de origem não animal que imitam perfeitamente as penas do faisão, por exemplo, dispensando a crueldade da depenagem (Fotos: Mercado Livre/Getty)

Será que quantos animais já são vítimas dos caprichos do Carnaval neste ano? Embora as opções sintéticas e ecológicas de adereços para o Carnaval estejam aumentando a cada ano, o Brasil ainda não teve um carnaval livre de penas, plumas e outros artigos de origem animal que são facilmente substituíveis.

Os fatores que apontam que talvez ainda estejamos um pouco distante dessa realidade são os mesmos de sempre – desnecessária predileção estética, diferenciação por status (já que essas fantasias custam caro), desinteresse da própria comissão organizadora do evento e indiferença política no Congresso, que até hoje não aprovou nenhum projeto contra a prática.

A cada Carnaval, alguns destaques de escolas de samba sempre buscam visibilidade na mídia ostentando suas fantasias com milhares de penas de animais como faisão. E quem as comprou para usá-las somente uma vez, sem se importar com a história por trás dessas penas, tende a dizer com orgulho que os adereços custaram “o preço de um, dois ou três carros populares”.

Difícil não concluir que alguém acha positivo depenar um animal, privá-lo de sua beleza, algo inerente à sua própria natureza, pelo simples prazer de chamar a atenção de outras pessoas para uma fantasia. “Olhe, estou aqui, tenho condições de ter essa fantasia ‘maravilhosa’ com penas de verdade e que você não tem.” O quanto isso parece egoico e desnecessário?

A indústria está mudando, até mesmo os grandes desfiles de moda e inúmeras grandes grifes estão abdicando de diversas matérias-primas de origem animal, e o Carnaval das grandes escolas de samba, uma festa tradicional brasileira com visibilidade internacional, continua na contramão, resistindo às mudanças. Afinal, se permitem tal uso é porque há condescendência e indiferença.

Sem dúvida, em relação ao uso de penas de animais no Carnaval, um válido exercício de ponderação e empatia é imaginar como seria se alguém arrancasse os nossos cabelos. Não seria agradável, certo? Agora considere uma estimativa de que em anos anteriores os carnavais do Rio de Janeiro e São Paulo chegavam a usar até 19 toneladas de penas verdadeiras.

Será que quantos animais ainda são submetidos a sofrimento desnecessário por um capricho humano? Muitos, mas a verdade é que não precisamos de números para entender que o uso de penas é injustificável. Afinal, os animais não devem ser sacrificados pelas predileções carnavalescas de ninguém.

David Arioch S.A. Barcelos

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

Posts Recentes

O corpo bovino na água foi visto como carne perdida

O corpo bovino na água foi visto como carne perdida, não uma morte a ser…

5 horas ago

Quando uma criança viu o sofrimento de um peixe

Uma criança viu pela primeira vez um peixe sendo tirado da água. Lutava com o…

1 dia ago

O animal não cabe dentro do interesse humano

Ver o interesse dos animais não significa querer ou fazer com que esse interesse prevaleça,…

2 dias ago

Se quem mata animais profissionalmente é cruel, devemos nos perguntar, é cruel em nome de quem?

Há muito tempo quem mata animais no matadouro é associado à crueldade. Encontramos exemplos em…

3 dias ago

A morte é uma libertação para o animal explorado?

Esta semana, quando um boi teve morte súbita a caminho de um matadouro no Paraná,…

5 dias ago

No século 19, Comte observou que humanos estavam tratando outros animais como “laboratórios nutritivos”

Em “A lição de sabedoria das vacas loucas”, Lévi-Strauss cita como Auguste Comte, mais conhecido…

6 dias ago