O sofrimento dos outros animais pode ser maior do que o sofrimento humano, sim, realmente maior, e por uma justificativa até simples – a incapacidade de racionalizar e verbalizar o que sentem.
Imagine a si mesmo em uma selva e diante de um animal muito maior e mais forte do que você. De repente, vocês estão diante um do outro, e não há nada que você possa fazer para impedir que ele o ataque e o mate.
Afinal, ele não possui o mesmo código comunicativo que você. Partindo da mesma situação de um animal prestes a ser abatido, ou seja, de total vulnerabilidade, eu diria que qualquer reação sua será em vão. Isto porque falo de situações equiparáveis.
Por exemplo, um animal em um matadouro está no mesmo estado de vulnerabilidade de uma pessoa desarmada e despreparada caminhando pela selva. Mas nisso subsiste uma distinção substancial.
E qual seria? Se um animal me matasse em território silvestre, ele o faria por instinto, seja por fome, medo, identificação de perigo ou qualquer outro fator que desencadeie essa reação. Já os animais cativos que matamos não nos apresentam qualquer perigo.
Eles são criados para gerar lucro e saciar paladares, logo são mortos friamente. Creio que não apenas legitimamos esse tipo de morte como a incentivamos e a incluímos, de forma arbitrária, na nossa moralidade antropocêntrica.
Se ainda assim, a minha resposta não for o suficiente, sugiro que aqueles que discordam do meu posicionamento visitem matadouros e observem a reação dos animais antes do abate. Não é incomum eles recuarem.
Um animal que testemunha a morte de outro não se oferece para ser o próximo. Muito pelo contrário. A ausência de um código de comunicação em comum, sem dúvida, torna tudo mais doloroso.
Imagino que saberíamos como é esse tipo de sentimento se uma espécie muito superior à nossa, e que tivesse um código de comunicação diferente do nosso, fizesse algo parecido conosco.
Claro, diferente de algumas espécies silvestres, como os grandes felinos, não despedaçamos nossas vítimas no instante em que as matamos ou durante a matança. Porém, não fazemos isso depois? Frigoríficos, açougues e seções de frios dos mercados provam que sim.
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