Vi um caminhão transportando animais para o matadouro – parado por causa do congestionamento. Um deles mantinha a cabeça escorada entre a base e uma barra. Percebi seu cansaço e observei sua expressão que não mudava.
Olhos não iam de um lado para o outro, e se miravam algo parecia não ser mais do que um vazio. Alterações no cenário não modificavam seu estado, não atraíam sua curiosidade ou qualquer vontade.
Movimento de pessoas, de veículos, era irrelevante. Cabeça continuava no mesmo lugar. A maneira como seu pescoço caía sobre a base lateral da carroceria me fez pensar em guilhotina e depois em uma lâmina que corta de baixo para cima.
Cabeça levemente inclinada e uma ideia de fragilidade. Mas o que lá dentro não era sobre fragilidade? Boca não abria e olhos continuavam miúdos, pouco abertos, desinteressados diante de sons, da vida que não era sua e prosseguia.
Uma estátua impercebida da subjugação animal, do tipo transitória, para ser esfolada e despedaçada. Não estaria lá se não quisessem sua carne, cortá-la no prato. Talvez quisessem mastigá-lo em uma data especial, um corte especial de uma vida jamais tratada como especial.
Quantos cortes especiais vêm das condições ordinárias dos animais? Sempre uma contradição. Demorei pra perceber que ele não teria esse fim, que não estava mais lá, que era um corpo esvaziado de vida, uma matéria simbólica de uma partida.
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