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Há exploração pior do que a exercida contra animais não humanos?

Uma reflexão sobre a relativização no combate à exploração animal 

Foto: Unsplash

Como ficar ao lado de uma causa humana em uma situação que essa causa é favorável ao mal contra outros animais? E a relativização disso no combate ao especismo é contraditória e abre precedente para que seja questionada pela permissividade que também é inconsiderada.

Afinal, se uma prática de um grupo não deve ser proibida nem combatida, outro grupo pode reivindicar que a sua também não, e por conseguinte; e teremos uma imensidão de reivindicações de continuidade de práticas ou atividades nocivas aos animais.

Com isso, cada um se verá no direito de preservar seus interesses de causar mal aos animais com base em seus valores que excluem dessa consideração os interesses que não são seus, mas que são das vítimas de suas práticas. Outros podem até mesmo alegar que, pelo lugar social que ocupam, deveriam ter direito a novas práticas que envolvam o uso de animais.

Se uma pessoa, que reprova todos os outros tipos de exploração que envolve animais, diz que um grupo não pode ter sua prática de violência contra os animais proibida ou combatida, sob a justificativa de que combatê-la seria agir arbitrariamente contra esse grupo, perpetuando uma relação de poder, essa pessoa nunca está olhando para todos os grupos, mas para o grupo que ela quer favorecer.

Não seria difícil listar inúmeros grupos em situação equivalente à que é afirmada na defesa de um grupo em prejudicar animais, mas sem estender igual consideração a outros grupos que não estão em posição “mais privilegiada”.

Portanto, além de eu propor uma reflexão sobre isso porque evidencia a contradição de determinadas defesas, que relação de poder é mais extensivamente arbitrária e brutal do que a que é exercida por grupos humanos contra grupos não humanos?

Não é difícil encontrar pessoas contrárias a um tipo de proibição que envolve violência contra animais não humanos por parte de um grupo, mas que não são contra outras proibições de outros grupos, e que são promovidas por grupos em posição social equivalente, o que também evidencia uma contradição.

Enfim, para esses animais, os argumentos usados para justificar a prática do que para eles é um mal, não interessam, e sim a não violação de seus interesses.

Também convido a uma reflexão pertinente à discussão a partir de uma passagem de Peter Singer no livro “Why Vegan?“:

“Em comparação com outros movimentos de libertação, o Animal Liberation tem muitas desvantagens. A primeira e mais óbvia é o fato de que os próprios membros do grupo explorado não podem fazer um protesto organizado contra o tratamento que recebem (embora possam e protestem com o melhor de suas habilidades individualmente). Temos que falar em nome daqueles que não podem falar por si mesmos. […] A Libertação Animal exigirá maior altruísmo por parte da humanidade do que qualquer outro movimento de libertação, já que os animais são incapazes de reivindicá-lo para si mesmos, ou de protestar contra sua exploração por meio de votos, manifestações ou bombas” (2020, p. 7 e p. 33).

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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