Consumo de animais é o fim dos animais. Podemos ignorar todo o processo que precede o fim e pensar somente no fim. Podemos não pensar especificamente em nenhum animal ou em todos os animais.
Por que nominar? Por que referenciar? Não há animais, mas corpos e pedaços de corpos – maiores ou menores – o acondicionamento varia com o volume. O cheiro é gorduroso e não remete a alguém.
Tudo ali é uma sucessão de ausências, e são as ausências que levam ao apetite, a salivação, o desejo por partes daquela exposição fragmentada no açougue.
Fico parado, observando uma grande coleção de fins, desconectados de origem, separando-se, misturando-se. Cada consumidor carrega suas porções de fins – há sempre sacolas mais pesadas do que outras.
Algumas destacam-se pela mioglobina que avermelha o fundo. Os já não animais são reunidos como fragmentos ausentes. Percebo pelas diferenças entre as carnes, suas formas, texturas e cores.
Todos os dias, as coleções de fins são renovadas, e as de ontem são as de hoje na mesma proporção que não são. Penso na perpetuidade, como se nunca saíssem dali, embora saiam o tempo todo.
A continuidade favorece essa percepção, do mesmo que não é, embora também seja, porque as coleções de fins não são as mesmas na individualidade, mas continuam a ser na coletividade.
Então os fins vão para casa, migram (na realidade, são migrados) para o refrigerador, para a panela, para a boca que, depois daqueles fins, desejará mais coleções de fins. E os fins não param…