Categorias: Pequenas Narrativas

Animais como mercadorias nunca são sobreviventes

Um caminhão que carregava porcos tomba, deixando vivos e mortos na estrada. Quem morre não é pensado como vida perdida, mas sim mercadoria que não poderá ser vendida.

Alguns são descarnados perto dali, outros são levados para outro lugar. Há sangue no asfalto, feridas na cabeça, desnorteamento. O estado de perdição do porco favorece a esfola.

Está atordoado. Em uma escala de consideração, onde está o porco? Veículos passam, pessoas olham. Para o porco, é melhor estar morto ou sobreviver, que é só forma adiada de morrer?

Horas depois, quem vivia, já não vive, e anula-se a diferença sobre o que antes foi chamado de sobrevivência. Há somente corpos caídos, ou pedaços deles, que já desapareceram, ou ainda não.

David Arioch S.A. Barcelos

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

Visualizar comentários

Posts Recentes

Quando uma criança viu o sofrimento de um peixe

Uma criança viu pela primeira vez um peixe sendo tirado da água. Lutava com o…

13 horas ago

O animal não cabe dentro do interesse humano

Ver o interesse dos animais não significa querer ou fazer com que esse interesse prevaleça,…

2 dias ago

Se quem mata animais profissionalmente é cruel, devemos nos perguntar, é cruel em nome de quem?

Há muito tempo quem mata animais no matadouro é associado à crueldade. Encontramos exemplos em…

3 dias ago

A morte é uma libertação para o animal explorado?

Esta semana, quando um boi teve morte súbita a caminho de um matadouro no Paraná,…

5 dias ago

No século 19, Comte observou que humanos estavam tratando outros animais como “laboratórios nutritivos”

Em “A lição de sabedoria das vacas loucas”, Lévi-Strauss cita como Auguste Comte, mais conhecido…

6 dias ago

Homem que trabalhou em matadouro reconhece crueldade do abate

Conheci a história de um homem que trabalhou em um matadouro abatendo cerca de 500…

7 dias ago