Filme do diretor de ‘Amélie Poulain’ traz críticas à exploração animal

Lançado em 2022 e disponibilizado recentemente na Netflix, o filme ‘Bigbug’, do diretor Jean-Pierre Jeunet, de ‘O Fabuloso Destino de Amélie Poulain’, traz críticas à exploração animal na obra ambientada em 2045.

Em ‘BigBug’, quando robôs assumem o controle, seres humanos são obrigados a participarem de um programa televisionado em que substituem outros animais em circos e touradas. O público não humano também pode arremessar objetos contra eles em jaulas.

O propósito do programa é a ridicularização. Logo se essas práticas visam a ridicularização humana e a reafirmação de poder sobre o outro, que pode ser subjugado se considerado viável, por que em relação aos outros animais essas práticas não podem ser percebidas como ridículas?

No filme, diante da mesa, como se estivessem preparados para comer, robôs exibem foie gras de fígado humano em um comercial, ratificando que a percepção dos humanos como inferiores permite que essas máquinas os utilizem de acordo com seus interesses, que é o que fazemos com outros animais.

Há uma construção direta e simbólica de exercício de domínio e poder, porque utilizar humanos como bens de consumo e meio de entretenimento por exploração são também reafirmações de que a diferença percebida pelos robôs em relação aos humanos, a quem serviam, e existiam para servir, é uma diferença que passa a estabelecer uma inversão de controle, já que os papeis podem ser trocados – em relação também aos outros animais.

Sobre isso, é relevante perguntar o que faríamos se um dia fôssemos dominados por uma espécie ou por criaturas que são ou julgam-se superiores a nós. Que argumento poderíamos utilizar enquanto ainda perpetuamos a exploração de tantos outros animais também com base na crença de que fazemos o que fazemos porque podemos?

Já que ignoramos seus interesses apenas porque temos os meios e instrumentos necessários para submetê-los, independente da ausência de necessidade em relação à exploração. Afinal, não é o ato de dominar que legitima a crença de que dominar não é condenável nem reprovável?

David Arioch S.A. Barcelos

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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