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Jane Goodall completa 85 anos

Jane Goodall é considerada uma das mais importantes primatólogas do nosso tempo (Foto: Hector Retamal/AFP/Getty Images)

Considerada uma das mais importantes primatólogas do nosso tempo, a britânica Jane Goodall, que também é etóloga e antropóloga, completou ontem, dia 3, 85 anos, e fez um apelo para que a humanidade faça escolhas sustentáveis que permitam reparar os danos causados pela humanidade ao meio ambiente e aos animais.

Jane revolucionou os estudos sobre primatas na década de 1960, contribuindo principalmente para o reconhecimento da capacidade de aprendizagem social e raciocínio de chimpanzés e babuínos. O seu primeiro grande trabalho como cientista foi na Tanzânia, onde realizou uma pesquisa de campo com primatas nas florestas de Gombe e descobriu que eles são capazes de fabricar e utilizar ferramentas.

A senhora Goodall adotou uma abordagem diferenciada ao imergir no habitat dos animais e tratá-los como indivíduos, com nomes e personalidades. Em 1977, ela fundou o Instituto Jane Goodall, que deu início a projetos de conservação na Tanzânia. Hoje a instituição já está presente em cem países e promove a capacitação e o engajamento de jovens em ações em benefício do meio ambiente e dos animais.

“Parei de comer carne há 50 anos, quando olhei a costeleta de porco em meu prato e pensei: isso representa medo, dor e morte. Feito, me tornei vegetariana instantaneamente”, contou Jane Goodall em artigo publicado em seu site no dia 28 de abril de 2018. Para a primatóloga, um grande e nobre motivo para não consumirmos carne é a contrariedade à exploração animal, a rejeição ao sofrimento imposto arbitrariamente aos seres não humanos.

Ela citou como outra importante razão o impacto causado pela produção de carne ao meio ambiente – incluindo a contribuição às mudanças climáticas. “A maioria das pessoas não percebe a indescritível crueldade sofrida pelos animais […]. E aqueles que sabem, não se importam. As pessoas me dizem que os animais são criados para tornarem-se comida – como se isso significasse que eles não são mais seres sensíveis. Outros me pedem para não falar sobre isso, porque eles ‘amam os animais e são muito sensíveis’ – [pedem isso] para que possam comer porcos, bois e vacas sem sentirem culpa”, lamentou.

Em 14 de janeiro de 2016, Jane Goodall concedeu uma entrevista ao Democracy Now, e disse que assim como não comeria seu cachorro, não seria capaz de comer a carne de outros animais. “Sou vegetariana porque, você sabe, respeito os animais. Sei que todos eles são indivíduos”, declarou e acrescentou que porcos são animais mais inteligentes do que muitos cães. Jane destacou que vê com estranheza quando alguém diz que não acredita que o mundo está passando por mudanças climáticas em decorrência da displicência humana em relação aos animais e ao meio ambiente.

“Esse vasto impacto está sendo causado pela agropecuária. E a fim de alimentar bilhões e bilhões de bois, vacas, porcos, frangos, galinhas. Mesmo que você não se importe com a crueldade, mesmo que se recuse a admitir que esses indivíduos têm sentimentos, que sentem dor e têm emoções, você tem que admitir que grandes florestas são destruídas para cultivar grãos para alimentá-los. A pecuária está transformando florestas em pasto”, reclamou em entrevista ao Democracy Now.

No artigo publicado no dia 28 de abril, a primatóloga citou as secas causadas pelas mudanças climáticas na África Subsaariana. Relatou que a região está se tornando um deserto com grandes áreas suscetíveis à erosão:

“Quantidades enormes de água estão sendo desperdiçadas para transformar a proteína vegetal em proteína animal. […] Os aquíferos subterrâneos também estão diminuindo e se tornando poluídos, e frequentemente por causa do escoamento de produtos químicos agrícolas ou por causa das ‘lagoas’ de resíduos produzidos pelos próprios animais [criados para consumo]. Precisamos considerar a grande quantidade de metano gerada pelo sistema digestivo dos animais, especialmente os bovinos – um gás com efeito estufa muito mais potente do que o CO2. As grandes quantidades de combustíveis fósseis utilizados para manter toda a produção industrial de carne estão aumentando absurdamente os gases do efeito estufa.”

Além desses apontamentos e críticas, há muito tempo Jane Goodall qualifica a dieta vegetariana como mais benéfica para a saúde. Costuma citar a si mesma como exemplo, argumentando que assim que parou de se alimentar de animais, imediatamente sentiu-se melhor e mais leve. “Muitas pessoas me disseram o mesmo”, afirmou em seu artigo. Ao abordar os malefícios do consumo de carne, a senhora Goodall apresentou como referência os estudos da Harvard Medical School e do Science Daily – que relacionou o alto consumo de carne na atualidade com o aumento da obesidade:

“Alguns dos hormônios e outros suplementos alimentares dados aos animais para aumentar a taxa de crescimento podem ter impacto sobre nós. Os antibióticos agora são fornecidos regularmente para manterem vivos os animais [criados para consumo] em condições de lotação e depressão. Inevitavelmente, as bactérias estão se tornando mais resistentes, e pessoas têm morrido em decorrência de simples infecções que não responderam aos antibióticos usados para curá-las.”

Jane Goodall defende que há muitas razões para uma pessoa se tornar vegetariana ou vegana, e sempre que possível pede encarecidamente para que reflitam a respeito: “Continuo pedindo que as pessoas considerem o que essa escolha realmente significa em um nível moral para os animais e o meio ambiente. É a escolha de mudar nossas vidas, o que por sua vez trará enormes benefícios para toda a humanidade e todas as outras criaturas com quem compartilhamos a nossa casa.”

Saiba Mais

Jane Goodall nasceu em Londres, na Inglaterra, em 3 de abril de 1934. Ao longo de sua carreira, recebeu dezenas de prêmios, títulos e homenagens.

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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