No ensaio “O primeiro Passo”, o escritor russo Liev Tolstói, autor de clássicos como “Guerra e Paz” e “Anna Karenina”, manifesta sua simpatia pelo vegetarianismo. Inclusive narra algumas histórias que o motivaram a abster-se do consumo de animais.
Na obra, ele conta que decidiu visitar Tula, ao sul de Moscou, quando falaram-lhe que os matadouros da localidade, seguindo o exemplo das grandes cidades, colocaram em prática um novo sistema, em que os animais sofriam o mínimo possível antes de serem mortos.
À época, o que o motivou a entender como funciona a indústria da exploração animal foi o livro “Ethics of Diet”, do britânico Howard Williams, publicado em 1883.
“Desejava visitar os matadouros para assegurar-me por mim mesmo da essência do problema de que se fala quando se trata do vegetarianismo; mas me ocorria algo parecido a o que se nota quando se sabe que se vai experimentar um sofrimento agudo que ninguém pode impedir. Adiava sempre minha visita.
Mas recentemente encontrei no caminho um abatedor que ia a Tula. Era um trabalhador pouco hábil e sua tarefa consistia em amarrar os animais. Perguntei-lhe se não lhe davam pena os bovinos.
— O que obteria com isso? De qualquer forma, tenho que matá-los.
Mas quando lhe disse que não é necessário comer carne, a qual constitui um alimento de luxo, concordou comigo que verdadeiramente era de sentir.
— Mas o que fazer? É preciso ganhar a vida. Antes, temia matar: meu pai não matou jamais nem uma galinha.
De fato, à maioria dos russos lhes repugna matar, sentem piedade, e expressam tal sentimento pela palavra “temor”. Ele também temia, mas deixou de temer, e me explicou que a sexta-feira era o dia de mais trabalho.
Tive recentemente uma conversa com um soldado, açougueiro, que também se admirou ao dizer-lhe eu que era uma lástima matar. Contestou-me que é um costume necessário; mas finalmente, concordou que dá pena, e acrescentou:
— Sobretudo quando o boi se encontra resignado e manso, quando vai ao abate com toda confiança. Sim, inspira muita piedade.
É horrível! Horríveis são, de fato, não os sofrimentos e a morte dos bovinos, mas o fato de que o homem, sem nenhuma necessidade, cale seu sentimento elevado de simpatia por seres vivos como ele, e seja cruel vencendo sua repugnância. Quão profunda é no coração do homem a proibição de matar a um ser vivo!”
“O primeiro Passo” foi publicado originalmente em 1892.
Clique aqui para ler outros artigos sobre a relação de Tolstói com o vegetarianismo e sua crítica à exploração animal.
Gosta do trabalho da Vegazeta? Colabore realizando uma doação de qualquer valor clicando no botão abaixo:
Uma criança viu pela primeira vez um peixe sendo tirado da água. Lutava com o…
Ver o interesse dos animais não significa querer ou fazer com que esse interesse prevaleça,…
Há muito tempo quem mata animais no matadouro é associado à crueldade. Encontramos exemplos em…
Esta semana, quando um boi teve morte súbita a caminho de um matadouro no Paraná,…
Em “A lição de sabedoria das vacas loucas”, Lévi-Strauss cita como Auguste Comte, mais conhecido…
Conheci a história de um homem que trabalhou em um matadouro abatendo cerca de 500…
Visualizar comentários
depois de ver o vídeo Terráqueos nunca mais consegui nem estar num lugar onde tenha um corpo de alguem de comida