Pesquisar
Close this search box.

Quantas escolhas de consumo são baseadas em violência?

O quanto pode ser coerente manifestar-se contra a violência enquanto quem articula tal voz sequer digeriu o que é resultado de uma violência que, mesmo não reconhecida dessa forma, não pode ser negada como violência?

Foto: AE

Diversos pensadores e articuladores que se voltaram para a justiça social trazem ou reproduzem mensagens de que se desejamos uma sociedade pacífica não podemos conquistá-la promovendo violência.

Entendo que isso é sobre não buscar assegurar uma sociedade pacífica por meio da violência. Mas e quando o nosso viver é por escolha uma expressão de violência? E se olhamos para a nossa vida e não é possível negar que muito do que está relacionado ao nosso cotidiano é por escolha um incentivo à reprodução da violência?

Muitos discursos de combate à violência, aversão à violência ou que reforçam que a violência é algo que não devemos praticar são seletivos, e não deixarão de sê-lo enquanto os interesses humanos não levarem em consideração também outros animais.

O discurso generalizado contrário à violência é reducionista na não consideração de que violência é o que se faz contra tantos animais que sequer são reconhecidos como vítimas dependendo dos interesses que são estabelecidos por meio da violência, como o consumo.

Muito comum também, partindo do mesmo contexto, é a mensagem de que “a liberdade deve ser para todos”. Mas esse “todos” não é realmente sobre “todos”, não quando é exclusivamente humano. Então é adequado falar em todos?

Logo a afirmação do “todos” que não são “todos” não é apenas uma exclusão como também uma instantânea negação por arbitrária naturalização de que há mais a ser considerado, logo também uma negação de outras privações, do ato de tolher outras liberdades.

E tal compreensão de liberdade pode ser entendida como o direito básico de não ser explorado nem intencionalmente prejudicado, de não ser privado de necessidades e desejos básicos. Logo seria a liberdade de viver sem ser tolhido dos próprios interesses, e sem uma determinação impositiva de morrer para ser um fim em alguém.

O quanto pode ser coerente manifestar-se contra a violência enquanto quem articula tal voz sequer digeriu o que é resultado de uma violência que, mesmo não reconhecida dessa forma, não pode ser negada como violência?

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

Uma resposta

  1. Exato.

    Num livro de História do Brasil do ensino médio, quando era estudante, li uma frase que nunca mais me saiu da cabeça, e que hoje, considerando sempre a questão da condição animal (sob o jugo humano) em todos os aspectos do meu dia a dia, faz ainda mais sentido e prova sua veracidade e irrefutabilidade:

    “A violência não existe e não pode existir por si só. Ela está invariavelmente ligada à mentira.” (Alexander Soljenítsin)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *