Um menino não quis mais comer salsicha ao saber que é feita de partes de animais separadas de forma mecânica.
Olhou para o cachorro-quente e sentiu amargor e azedume na boca. Depois a língua começou a acidular. Perguntou-se por que ninguém diz que “salsicha é coisa estranha”.
Pensou em mistura de bichos caindo em um triturador – bois, vacas, porcos, frangos e galinhas. Atravessavam doutro lado, misturando-se sem vida, perdendo-se de si e dos outros.
Restou só uma massa estranha e uniforme, de cor oscilante, indefinida pela incômoda mistura, que chamou de “embolada”. “Quando vem a cor final?” Sentiu o estômago estranho, um pouco de náusea.
Então esqueceu desse desconforto e quis saber quantas parte de quantos animais vão para uma bandeja ou embalagem de salsicha.
“Quem sabe dizer?” Achou que talvez o número não fosse importante, mas só a ideia da salsicha.
“Sal-si-cha. Saal-sii-chaa”, repetiu várias vezes. Um nome simples que não diz o que é, e que vira apelido, coisa engraçada, piada.
“Isso significa que comer uma salsicha é como comer vários animais mortos ao mesmo tempo?” E tentou adivinhar quantas salsichas comeu, sem chegar a um número final. “Quantos animais?”