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A morte é uma libertação para o animal explorado?

Uma reflexão sobre um boi que teve morte súbita a caminho do matadouro

Esta semana, quando um boi teve morte súbita a caminho de um matadouro no Paraná, alguém disse que foi melhor para o animal, que não seria submetido à pistola nem pendurado para ser degolado. “O animal está sendo poupado de mais sofrimento, do prolongamento de uma morte inevitável. São etapas que não existirão para ele, que ele não conhecerá.”

É uma forma de ver essa realidade. Lembrei-me de pessoas que dizem que a libertação para o animal é a morte. Mas acho inadequado pensar assim, ainda que isso seja dito quando a morte é pensada de forma fatalista como fim do sofrimento que aflige o corpo, porque isso pode ser usado para legitimar a ideia de que então não há problema em usar animais, se é a morte uma libertação. Mas e o que antecede a morte, e o que causa a morte?

A crença em uma libertação pela morte pode evocar uma romantização por antropomorfismo idealizado ou capciosa. E que animal merece morrer mesmo quando o fim planejado não é concretizado, porém não livra o animal de um fim impossivelmente indissociável de seu domínio?

Mesmo no caso do boi, se não morreu para o fim imposto a ele (abate), não deixou de ter breve vida visando tal fim, e não foi essa estranha breve vida que culminou nessa morte não planejada? Mesmo quando o animal não morre literalmente por mãos humanas, se ele é fim no ser humano, ele não escapa ao interesse instrumental, a não ser que não esteja vivendo nas condições que culminam na produtificação.

Não especulo sobre a morte súbita que o vitimou, mas se a morte é “repentina”, sabemos que isso não significa que suas motivações sejam, ainda mais se é sobre um animal que desde o nascimento, e antes dele, é para o domínio humano.

A morte súbita desse boi, sem dúvida, significa o que foi dito, um não experimentar de etapas que não seriam desejadas por esse animal, mas, mesmo quando o animal morre pelo que é considerado “imprevisto” por quem exerce domínio sobre ele – como encontrá-lo morto “antes da hora determinada e no local não desejado” -, isso não confirma que o animal não é vítima também do que se não é planejado, não deixa de ser possível pela sua própria condição estabelecida como imposição.

Leia também “No século 19, russo escreveu uma história de luta pela libertação animal“, “O cuidado que recebe a carne não recebe o animal vivo” e “De quais maus-tratos pode se livrar um animal criado para ser maltratado?

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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