E se os animais falassem antes do abate?

Ilustração: Roger Olmos
 

“E se os animais falassem antes do abate?” Foi seu primeiro pensamento após assistir vídeos sobre animais em matadouros. “Não que eu queira carregá-los de antropomorfismo, mas o que diriam os humanos?” Talvez não dissessem nada e apenas corressem.

“E se corressem seria ruim para esses animais?” Acho que não, e poderiam deixar o local espalhando palavras que silenciariam os humanos pelo choque. “Mas e se alguém decidisse lucrar com suas verbalizações?” Não imagino que seja pouco possível, mas prefiro crer que não.

O susto seria premente, e a articulação das palavras remeteria logo a uma consciência que não poderia ser ignorada. Talvez os relegassem a experimentos. “Mas que tipo de experimentos?” Invasivos, vivisseccionistas, como a humanidade faz com tantos outros animais. Porém, por que pensar assim?

Quem sabe, isso daria vantagem a esses animais, que poderiam reclamar sem as típicas distorções da conveniência humana. Poderiam dissertar sobre nossas falhas morais. Ou apenas dizer que não querem morrer ou virar qualquer coisa pra alguém comer. Afinal, fazer o que fazemos com eles é perpetuado pelas diferenças que enaltecemos.

“Olhe, ele não fala, não anda como nós, não age como nós, não pensa como nós, não parece conosco.” Como se houvesse plausibilidade que sustentasse perpétua obliteração de direitos. Isto só é possível em uma sociedade que incivil, sem reconhecer-se assim, gosta de ensaiar sua própria civilidade. Não que ser civilizado seja sinônimo de evolução. Afinal, veja onde chegamos e o que fazemos.

“E acha que alguém ainda resistiria em reconhecê-los como sujeitos de direitos?” Possivelmente, só que os argumentos contrários poderiam ser rebatidos pelos próprios alvos de suas ignorâncias, sem intermediários. As dissimulações seriam destruídas, as propagandas desapareceriam, assim como todas as inverdades e vaidades que envolvem a subjugação de animais.

Mas os não humanos não precisam ser como nós, nem devem ser como nós. “Quando exploramos os outros e, mais cedo ou mais tarde, os enviamos para a morte, como isso pode parecer positivo ou alentador?” Acho que não é preciso responder. Basta observar com a honestidade de querer enxergar.

 

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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