Jane Goodall completa 60 anos de dedicação aos primatas

Jane Goodall foi responsável pela redefinição da relação entre primatas e humanos (Foto: Hector Retamal/AFP/Getty Images)

A primatóloga Jane Goodall está completando 60 anos de atuação em defesa dos primatas. Seu trabalho iniciado em 1960 revolucionou os estudos sobre esses animais, contribuindo principalmente para o reconhecimento da capacidade de aprendizagem social e raciocínio de chimpanzés e babuínos.

O seu primeiro grande trabalho como cientista foi na Tanzânia, onde realizou uma pesquisa de campo com primatas nas florestas de Gombe e descobriu que eles são capazes de fabricar e utilizar ferramentas.

Jane Goodall adotou uma abordagem diferenciada ao imergir no habitat dos animais e tratá-los como indivíduos, com nomes e personalidades. Em 1977, ela fundou o instituto que leva seu nome, dando início a projetos de conservação na Tanzânia. Hoje a instituição já está presente em cem países e promove a capacitação e o engajamento de jovens em ações em benefício do meio ambiente e dos animais.

Abandono do consumo de carne em 1968

E foi por reconhecer também não humanos como sujeitos de direitos que em 1968 abdicou do consumo de carne. “Olhei a costeleta de porco em meu prato e pensei: isso representa medo, dor e morte”, reforça em artigo publicado em seu site.

Para a primatóloga, um grande e nobre motivo para não consumirmos carne é a contrariedade à exploração animal, a rejeição ao sofrimento imposto arbitrariamente aos seres não humanos.

Em entrevista ao Democracy Now, ela disse que assim como não comeria seu cachorro, não seria capaz de comer a carne de outros animais. “Sou vegetariana porque, você sabe, respeito os animais. Sei que todos eles são indivíduos”, declarou.

Pedido para deixarmos os animais em paz

Considerando a origem e as consequências da pandemia de coronavírus, em março Jane Goodall protagonizou um vídeo disponibilizado no YouTube em que pede que os animais sejam deixados em paz.

“Muitas espécies de animais e plantas foram extintas. E nosso relacionamento muito próximo com animais silvestres nos mercados ou quando os usamos para entretenimento, desencadeou o terror e a miséria de novos vírus. Vírus que existem em animais sem prejudicá-los, mas ganham outras formas para nos infectar com novas doenças como ebola, sars, mers e, agora, o coronavírus.”

E continua: “Temos cérebros incríveis. Somos capazes de amar e ter compaixão uns pelos outros. Também mostremos amor e compaixão pelos animais que estão conosco neste planeta. Vamos todos viver juntos em paz e harmonia.”

A primatóloga enfatiza ainda que precisamos entender que todos os animais sentem dor e sofrem da mesma forma que os humanos.

Críticas à criação de animais para consumo

Já em junho, Jane Goodall participou de uma conferência online organizada pelo Parlamento Europeu que teve como foco discutir a relação entre pandemias, vida silvestre e agropecuária. Na ocasião, defendeu que a única saída é uma revolução no sistema alimentar.

“Se não fizermos as coisas de maneira diferente, será no nosso fim”, alertou Goodall, acrescentando que nós somos os responsáveis pelo que está acontecendo hoje, considerando nossos hábitos de consumo e o sistema alimentar que financiamos.

“É por causa do nosso absoluto desrespeito ao meio ambiente e aos animais. Nosso desrespeito aos animais silvestres e nosso desrespeito em relação aos animais de criação [para consumo] levaram a esses ambientes em que as doenças podem atravessar a barreira das espécies e se transferir de um animal para um ser humano.”

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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