Pedrinho e as sardinhas

Sardines, de David Simons

Pedrinho chegou em casa e, enquanto mexia nas sacolas de compras que sua mãe trouxe do mercado, viu que havia algumas latas de sardinha. Ele as retirou e escondeu dentro de uma gaveta. Quando seus pais saíram, pegou a maior bacia que encontrou na lavanderia e a encheu de água. Depois abriu as três latas e despejou as seis sardinhas na bacia.

Como elas não reagiam, apenas afundando na água, ele criou pequenas ondas com as mãos. A água começou a enturvecer, se misturando ao óleo que se soltava dos peixes sem cabeça. Pedrinho chorou e movimentou a água com mais força. Enquanto as lágrimas escorriam pelo queixo, uma das sardinhas se desfez na água, como se esfarelasse, se dividindo em centenas de pequenos fragmentos.

Com as mãos engorduradas de óleo e já cansado, o menino deitou ao lado da bacia e adormeceu, sonhando com peixes que saltavam das latinhas nas gôndolas do mercado e atravessavam a cidade em direção ao ribeirão. Quando seus pais chegaram em casa ficaram chocados com a cena e perguntaram o que Pedrinho estava fazendo: “Achei que se colocasse na água, suas cabeças cresceriam e elas voltariam a viver.”

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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