Cinco argumentos contra o consumo de carne

“A maioria das carnes, laticínios e ovos é produzida de maneira que ignora completamente o bem-estar animal” (Foto: Você Tem Escolha/Divulgação)

O professor de ética prática da Universidade de Oxford, Julian Savulescu, e o pesquisador Francis Vergunst, da área de saúde pública da Universidade de Montreal, publicaram no portal de jornalismo acadêmico The Conversation cinco argumentos pelos quais deveríamos parar de consumir carne.

Causa sofrimento desnecessário aos animais

Se aceitarmos, como muitas pessoas fazem, que os animais são criaturas sencientes cujas necessidades e interesses importam, então devemos assegurar que essas necessidades e interesses sejam pelo menos minimamente atendidos e que não os façamos sofrer desnecessariamente. A pecuária industrial fica bem aquém deste padrão mínimo. A maioria das carnes, laticínios e ovos é produzida de maneira que ignora completamente o bem-estar animal – deixando de fornecer espaço suficiente para se movimentar, contato com outros animais e acesso ao exterior. Em suma, a agricultura industrial faz com que os animais sofram sem uma boa justificativa.

O impacto ambiental é enorme

A pecuária tem uma vasta pegada ambiental. Contribui para a degradação da terra e da água, perda de biodiversidade, chuva ácida, degeneração dos recifes de corais e desflorestação. Em nenhum lugar esse impacto é mais aparente do que na mudança climática – a pecuária contribui com 18% das emissões de gases do efeito estufa produzidas pelo ser humano em todo o mundo. Isso é mais do que todas as emissões de navios, aviões, caminhões, carros e todos os outros transportes juntos. Só a mudança climática representa múltiplos riscos para a saúde e o bem-estar por meio do aumento do risco de eventos climáticos extremos – como inundações, secas e ondas de calor – e tem sido descrito como a maior ameaça à saúde humana no século XXI. Reduzir o consumo de produtos de origem animal é essencial se quisermos atingir as metas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa – que são necessárias para mitigar os piores efeitos das mudanças climáticas.

Requer grandes quantidades de grãos, água e terra

A produção de carne é altamente ineficiente – isto é particularmente verdadeiro quando se trata de carne vermelha. Produzir um quilo de carne bovina requer 25 quilos de grãos – para alimentar o animal – e aproximadamente 15 mil litros de água. A escala do problema também pode ser vista no uso da terra: cerca de 30% da superfície terrestre é usada atualmente para a pecuária. Assim como os alimentos, água e terra são escassos em muitas partes do mundo, e isso representa uso ineficiente de recursos.

Prejudica a população mundial mais pobre

Cultivar grãos para alimentar o gado aumenta a demanda global e eleva os preços dos grãos, dificultando a alimentação dos mais pobres no mundo. O grão poderia ser usado para alimentar as pessoas e a água usada para irrigar as plantações. Se todos os grãos fossem usados para alimentar humanos em vez de animais, poderíamos alimentar um adicional de 3,5 bilhões de pessoas. Em suma, a pecuária industrial não é apenas ineficiente, mas também não equitativa.

Está nos deixando doentes

A pecuária industrial depende muito do uso de antibióticos para acelerar o ganho de peso e controlar as infecções – nos EUA, 80% de todos os antibióticos são consumidos pela indústria pecuária. Isso contribui para o crescente problema de saúde pública que é a resistência aos antibióticos. Estima-se que mais de 23 mil pessoas morram todos os anos apenas nos EUA devido à resistência bactericida. Como este número continua a subir, torna-se difícil exagerar a ameaça desta crise emergente. O alto consumo de carne – especialmente de carne vermelha e processada, típico dos países industrializados mais ricos, está associado a resultados ruins em saúde, incluindo doenças cardíacas, derrame, diabetes e vários tipos de câncer. Essas doenças representam a maior parte da carga global de doenças, portanto, a redução do consumo de carne pode oferecer benefícios substanciais à saúde pública. Atualmente, a média de consumo de carne para alguém que vive em um país de alta renda é de 200 a 250 gramas por dia, muito superior aos 80, 90 gramas recomendados pela Organização Mundial de Saúde. Mudar para uma dieta mais baseada em vegetais poderia poupar até oito milhões de vidas por ano em todo o mundo até 2050, além de gerar economias relacionadas à saúde e evitar danos decorrentes da mudança climática de até 1,5 trilhão de dólares.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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